Os trabalhos que compõem DiPOP: O Direito Na Cultura Pop, compartilham entre si características que envolvem principalmente o cinema e a literatura como possíveis novos instrumentos para o ensino e a prática jurídica; o diálogo do direito com outras práticas sociais; e a necessária superação de uma concepção positivista do direito, que, de outra forma, colocaria abaixo perspectivas de debate interdisciplinar.
Um dos grandes ícones da “cultura pop” no Brasil é certamente o seriado Chaves (El Chavo del ocho). De origem mexicana e regido sob a batuta do maestro Roberto Gómez Bolaños o programa televisivo rapidamente conquistou a audiência brasileira, tanto que segue em exibição na televisão aberta nacional há 33 anos (sua primeira exibição foi em 1984). Dentre vários diferenciais que justificam essa longa vida do Chaves está a perspicácia (de efeitos quase atemporais) do humor desenvolvido.
Considerado por muitos como um “humor bobo ou família” ele consegue atingir e provocar o riso em crianças, jovens, adultos e idosos, não sendo raro ouvir de alguém mais maduro para alguém mais jovem, frases como: “depois de tanto tempo, eu ainda dou risada das mesmas piadas”.
No mesmo sentido, o sucesso também vem dos preciosos bordões criados pela série, que possuem um inigualável efeito “grudento” para quem assiste. Você lembra?: “Foi sem querer querendo”, “Tá bom, mas não se irrite”, “Ninguém tem paciência comigo”, “Que que foi, que que foi, que que há?”, “Você não vai com a minha cara?”, “Sim, pois é, pois é, pois é”, “O que você tem de burro, você tem de burro”, “Vamos tesouro, não se misture com essa gentalha”, “E da próxima vez, vá beliscar a sua avó”, “É que eu quero evitar a fadiga”, “Tá, tá, tá, tá, táááá!”. Muito provavelmente – não é absurdo dizer – Chaves tenha criado os primeiros “memes” de um tempo prévio à internet e, mais especialmente, à internet democratizada.
Ao lado disso, sem dúvidas, Chaves tem por mérito tocar o cotidiano da maioria das pessoas com seu amplo espectro de personagens que vão do rico ao pobre, do honrado ao indigno, do culto ao inculto, do astuto ao ingênuo (e assim segue com tantas variações entre vários polos possíveis). Muitas das piadas e sátiras abordam de modo inteligente problemas estruturais da sociedade, tais como: desigualdade social, elitismo, saúde, educação, infância, desemprego, dentre outros. Afinal, como não recordar dos episódios em que Chaves revela que é órfão e não tem casa? Quando ele pede para a fonte dos desejos que possa almoçar todo dia? E quando ele diz que gostaria de se mudar para um lugar onde ninguém batesse nele? De outro lado, do despejo do seu Madruga e da Chiquinha? Bem como do comportamento soberbo da dona Florinda?