O pedido para que escrevesse um texto introdutório sobre este interessante estudo deixou-me algo perplexo.
De um lado, não sou jornalista. De outro, em rigor, não exerci nunca uma atividade política; pelo menos a que como tal é comumente entendida pela opinião pública.
Enquanto magistrado do Ministério Público, isso sim, lidei diversas vezes e em circunstâncias diferentes com situações e fatos vulgarmente reconhecidos como “corrupção” e fui confrontado, também, com o seu tratamento jornalístico.
O meu prisma de leitura de tais matérias resultava ser, sobretudo, o que os agentes da justiça têm sobre a corrupção e a sua cobertura jornalística.
Os textos que me foram dados a ler revelam, na esmagadora sua maioria, a perspectiva como jornalistas experientes pensam a questão da corrupção e ainda o modo como analisam a forma pela qual a justiça e a informação se cruzam na sua investigação.
Eles constituem, por isso, uma refrescante novidade e surpresa.
Tal surpresa resulta do facto de tais testemunhos me terem permitido compreender como, do lado do jornalismo, se desenvolveu uma reflexão séria sobre os diferentes papéis que justiça e jornalismo desempenham, quando ambos procuram as suas verdades sobre casos de corrupção.
A apreciação pública destes temas — há que reconhecer — costuma estar marcada pela posição preponderante dos comentadores que ocupam o espectro midiático, que, por norma, veiculam posições ideologicamente marcadas, ou profissional e politicamente interessadas.
Ora, as respostas às entrevistas deste estudo evidenciam uma objetividade tal, que ela só pode resultar de um contacto verdadeiro, regular e direto com o fenômeno da corrupção e bem assim com aqueles que, na justiça e no jornalismo, por razões apenas profissionais, com ela têm de lidar.
Os entrevistados assumem, sem hesitações, a patente diferença de possibilidades investigativas, metodologias e fins que uma e outra função — justiça e jornalismo — devem desenvolver para alcançar a suas verdades.
É um facto, que ficou em parte por esclarecer que a verdade judicial é sempre uma verdade cuja legitimidade é totalmente condicionada pelo método formal e legalmente estabelecido para a alcançar: aí a característica fundamental que a distingue da verdade jornalística.
A Corrupção Política Vista Por Jornalistas E Políticos
- Ciências Sociais, Comunicação
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