Pátria Coroada: O Brasil Como Corpo Político Autônomo (1780-1831)

Em 1836, na revista Nictheroy, Gonçalves de Magalhães afirmava, ao inaugurar o movimento romântico brasileiro: "No começo do século atual, com as mudanças e reformas que tem experimentado o Brasil, novo aspecto apresenta a sua literatura.

Uma só idéia absorve todos os pensamentos, uma nova idéia até ali desconhecida, é a idéia de Pátria; ela domina tudo, tudo se faz por ela, ou em seu nome".
Ele reconhecia a novidade do tema, a força em sua contemporaneidade, e tomava para si a importante tarefa de desvelar o passado brasileiro, através de suas fontes literárias, submersas na incessante voragem do tempo, mas que ainda pulsam ou estão adormecidas no interior do país, nos arquivos, nos escritos olvidados,
na sua natureza pródiga. Enquanto letrado, ele obsessivamente procurava recuperar tal passado, trazendo-o à luz, tornando-o visível, conhecido e, nesta medida, o leitor e o próprio poeta descobririam o verdadeiro Brasil e sua gente.
Gonçalves de Magalhães justificava sua escolha pela literatura, principalmente graças à sua capacidade de atravessar os tempos, alcançar a posteridade, e em virtude de sua ligação especular, reflexiva e analógica com o povo: a [literatura] é o desenvolvimento do que ele [povo] tem de mais sublime nas idéias, de mais filosófico no pensamento, de mais heróico na moral, e de mais belo na Natureza, é o quadro animado de suas virtudes, e de suas paixões, o despertador de sua glória, e o reflexo progressivo de sua inteligência.
No intuito de descobrir o Brasil, ele propunha um estudo sistemático e aplicado do passado, de suas ruínas, localizando a sua inserção e, aos poucos, reconstruía a marcha da civilização em terras brasileiras, revelando enfim a nação. Somente por este caminho, o povo reconheceria a si mesmo e sairia de um estado de inércia, de imobilidade, para marchar na direção do seu bom e correto futuro, palmilhando uma trajetória civilizada. Só assim este povo não se esqueceria de si mesmo, não se alienaria de si, em qualquer passado, mas reconheceria em seu presente o seu próprio passado, enxergando a sua verdadeira identidade nacional. Ou seja, ao descobrir a literatura brasileira, de imediato se saberia quem era o povo brasileiro e se desvendaria o próprio Brasil. Assim, o poeta se tornava o autor da nobre genealogia da nação.

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

Pátria Coroada: O Brasil Como Corpo Político Autônomo (1780-1831)

Em 1836, na revista Nictheroy, Gonçalves de Magalhães afirmava, ao inaugurar o movimento romântico brasileiro: “No começo do século atual, com as mudanças e reformas que tem experimentado o Brasil, novo aspecto apresenta a sua literatura. Uma só idéia absorve todos os pensamentos, uma nova idéia até ali desconhecida, é a idéia de Pátria; ela domina tudo, tudo se faz por ela, ou em seu nome”.
Ele reconhecia a novidade do tema, a força em sua contemporaneidade, e tomava para si a importante tarefa de desvelar o passado brasileiro, através de suas fontes literárias, submersas na incessante voragem do tempo, mas que ainda pulsam ou estão adormecidas no interior do país, nos arquivos, nos escritos olvidados,
na sua natureza pródiga. Enquanto letrado, ele obsessivamente procurava recuperar tal passado, trazendo-o à luz, tornando-o visível, conhecido e, nesta medida, o leitor e o próprio poeta descobririam o verdadeiro Brasil e sua gente.
Gonçalves de Magalhães justificava sua escolha pela literatura, principalmente graças à sua capacidade de atravessar os tempos, alcançar a posteridade, e em virtude de sua ligação especular, reflexiva e analógica com o povo: a [literatura] é o desenvolvimento do que ele [povo] tem de mais sublime nas idéias, de mais filosófico no pensamento, de mais heróico na moral, e de mais belo na Natureza, é o quadro animado de suas virtudes, e de suas paixões, o despertador de sua glória, e o reflexo progressivo de sua inteligência.
No intuito de descobrir o Brasil, ele propunha um estudo sistemático e aplicado do passado, de suas ruínas, localizando a sua inserção e, aos poucos, reconstruía a marcha da civilização em terras brasileiras, revelando enfim a nação. Somente por este caminho, o povo reconheceria a si mesmo e sairia de um estado de inércia, de imobilidade, para marchar na direção do seu bom e correto futuro, palmilhando uma trajetória civilizada. Só assim este povo não se esqueceria de si mesmo, não se alienaria de si, em qualquer passado, mas reconheceria em seu presente o seu próprio passado, enxergando a sua verdadeira identidade nacional. Ou seja, ao descobrir a literatura brasileira, de imediato se saberia quem era o povo brasileiro e se desvendaria o próprio Brasil. Assim, o poeta se tornava o autor da nobre genealogia da nação.

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog