
A entrevista, bastante longa, divide-se em três partes: formação, escrita, destinação do texto. Como última pergunta pedia que o autor traçasse o próprio retrato, que traçasse o seu auto-retrato.
Falar de si, estilizar-se, escolher entre as facetas possíveis da própria personalidade, resolver em poucas linhas ambivalências e contradições, definir, aprontar, hic et nunc, na hora, uma imagem de qualquer forma publicitária, quase para ser vendida, pode ser embaraçoso e difícil também para um escritor notoriamente e sustentado por um “ego” e por uma vontade forte de auto-afirmação.
Adélia Prado não teme confessar: “Eu sou uma pessoa à procura da própria identidade”; e Roberto Drummond, um pouco mareado, afirma: “Eu quero saber”. Também Otto Lara Resende confessa: “Eu não sei dizer quem eu sou…. O fato de não saber quem eu sou me leva a escrever.”
Perplexidades, duplicidade, ambivalências fixadas e para assim dizer objetivadas, momentaneamente, no auto-retrato: instantâneo, não reproduzível, indefinido. “Eu personagem de mim” nas palavras do escritor Rubem Mauro Machado
Qual é a verdadeira fisionomia, o auto-retrato desses personagens, qual a atitude, a projeção ideal desses autores?
Biografia E Criação Literária é um livro precioso.
Alterando uma visão sociológica com sagazes observações, feitas a partir de perguntas muito pertinentes, o italiano Giovanni Ricciardi, ensaísta, professor da Universidade de Nápoles – L’Orientale, tradutor, entrevistou mais de uma centena de escritores brasileiros e uma dezena de portugueses, e conseguiu produzir um documento impressionante.
Seu estudo situa a criação literária à luz da biografia do autor! Para tanto, construiu uma metodologia crítica, que ele chama de ‘sociologia do autor’ ou de ‘escritor corporal’.”
