Discussões sobre drogas e Aids ocupam, a todo momento, noticiários e mentes. Porém, a maneira como vêm sendo encaminhadas é pouco democrática e muito superficial, com tendência a manter as generalizações feitas até então.
Como tratar os usuários de drogas legais e ilegais? Simplesmente reprimindo-os? Como proteger-se do HIV, já que a noção de grupos de risco já não se sustenta mais?
Para aprofundar as reflexões sobre estes temas, a maioria dos autores, assim como a organizadora, desenvolveu o curso de extensão universitária Drogas e Aids: questões de direitos humanos, iniciado em 1996 na Uerj. Grande parte dos artigos trata de temas discutidos em sala de aula ao longo dos três primeiros anos do curso. Grande contribuição para quem pensa – e age – na área, no mundo.
A combinação de ‘drogas e Aids’ como objeto de reflexão sinaliza para a identidade estrutural de dois dramas humanos atuais. Em ambos se associam prazer e dor, vida e morte, repressores e pseudo-humanistas, intolerância, preconceito e discriminação.
Nessa patética combinação, parafraseando Glauber Rocha, “deus é o diabo na terra do sol”, porque o esplendor do amor, da paixão e das transformações perceptivas passaram a acenar com o gozo, mas já então indissociável da avaliação de seu custo.
Entretanto, como calcular e reduzir esse custo? Que quadrantes do conhecimento humano deveriam ser abordados para o adequado enfrentamento da questão? Ou que direção escolher que pudesse alimentar a esperança de contribuir, efetivamente, para a formulação de políticas públicas sobre os temas enfocados?
Os artigos aqui reunidos, pela análise de seu conteúdo, definem, em primeiro lugar, a centralidade da pessoa humana como razão de ser de todo o trabalho desenvolvido. Isso significa que os anelos do ser humano, suas carências, suas lutas, seus direitos, suas utopias, seus ideais de igualdade, de solidariedade e de justiça formaram o núcleo deste ‘pensar coletivo’.
É interessante notar que nenhum dos autores priorizou a análise dos temas específicos da repressão, que inflamam a mídia, como a formação de tropas para o combate armado ao narcotráfico nas fronteiras, os processos de detecção de lavagem de dinheiro, os métodos novos de enfrentamento da chamada ‘economia da droga’, as estatísticas de apreensão, o aumento de penas privativas de liberdade, entre tantos outros eletrizantes capítulos integrantes da seara repressiva.
E por que não foi priorizada a repressão? Por que os autores não estariam preocupados com tais assuntos? Não. Positivamente não. Esses temas preocupam a todos nós, tanto quanto, por exemplo, o ataque à corrupção denunciada nos poderes da República ou o combate ao contrabando, além de outros tipos penais que compõem o quadro da violência hipertrofiada das metrópoles.
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