Você vai poder desfrutar de um privilégio raro. Vai acompanhar o trabalho de um dos maiores narradores do século – o colombiano Gabriel García Márquez – junto a um pequeno grupo de roteiristas.
Nessa Oficina de Roteiro, um curso que ele dá todos os anos para um punhado de eleitos, as coisas funcionam assim; os alunos levam histórias, que são desenvolvidas em grupo, com a supervisão – e um participação mais que ativa – do autor de Cem Anos de Solidão.
“A coisa mais importante deste mundo é o processo de criação. Que tipo de mistério é esse, que faz com que o simples desejo de contar histórias se transforme numa paixão, e que um ser humano seja capaz de morrer por essa paixão, morrer de fome, de frio ou do que for desde que seja capaz de fazer uma coisa que não pode ser vista nem tocada, e que afinal, pensando bem, não serve para nada?
Algumas vezes acreditei – ou melhor, tive a ilusão de estar acreditando – que ia descobrir de repente, o mistério da criação, o momento exato em que uma história surge.
Mas agora acho cada vez mais difícil que isso aconteça. Desde que comecei a dirigir estas oficinas ouvi inúmeras gravações, li um sem-fim de conclusões, tentando ver se descubro o momento exato em que a idéia surge. Nada. Não consigo saber quando isso acontece.
Mas nesse meio tempo, tornei-me um viciado no trabalho coletivo. Esta coisa de inventar histórias em grupo, coletivamente, virou um vício. Dia desses, folheando uma revista Life, encontrei uma fotografia enorme. É uma foto do enterro de Hiroíto.
Nela, aparece a nova imperatriz, a esposa de Akihito. Está chovendo. Ao fundo, fora de foco, aparecem os guardas com suas capas brancas, e mais ao fundo ainda, a multidão com guarda-chuvas, jornais e pedaços de pano na cabeça; e no centro da foto, totalmente vestida de negro, com um véu negro e um guarda-chuva negro, aparece a imperatriz, num segundo plano, solitária e muito magra.
Vi essa foto maravilhosa e a primeira coisa que me veio ao coração foi que ali havia uma história. Uma história que, claro, não é a da morte do imperador, a que a fotografia está contando, mas outra: uma história de meia hora. Fiquei com essa ideia na cabeça, e ela continuou lá, dando voltas. Já eliminei o fundo, me desfiz completamente dos guardas vestidos de branco, das pessoas…