A França estava em crise. Tanto no campo quanto na cidade, a insatisfação pairava no ar, e a sociedade clamava por reformas. Ao rei Luís XVI faltavam força e personalidade política para tomar as rédeas da situação.
Enquanto o Antigo Regime agonizava, a voz do povo crescia e se fazia ouvir. Os escritos de Montesquieu, Locke, Voltaire e Rousseau mostravam que o espírito da modernidade tinha saído do campo das idéias para as ruas.
Este é o cenário pré-Revolução Francesa, que é apresentado aqui com todos os seus desdobramentos e figuras históricas, revelando como o país inteiro – e posteriormente a Europa – se envolveu na série de revoluções que depuseram o rei, sepultaram o Antigo Regime e propagaram o espírito de modernidade e liberdade pelo mundo afora.
Em 1789, 28 milhões de franceses, camponeses em sua maior parte, vivem sob a monarquia. A dinastia capetiana reina há oitocentos anos. A França é uma nação “organizada”: a sociedade está dividida em classes – clero, nobreza, Terceiro Estado, sendo as duas primeiras privilegiadas – e articulada em corpos e comunidades (de ofícios, de habitantes). Apesar das desigualdades e dos entraves inerentes a uma estrutura dessas, o reino de Luís XVI, em termos relativos, é rico. A necessidade de reformas, entretanto, é percebida por todos, de diferentes formas e em graus variáveis. As idéias fervilham, embora o verdadeiro pensamento do Iluminismo esteja difundido somente em um círculo estreito de leitores. Essas idéias são em parte contraditórias; uns e outros, quando reclamam por reformas, não estão falando das mesmas mudanças. O modelo ainda dominante na época quer que a monarquia se reforme por si, a partir do alto; provavelmente, ela não é mais capaz. De resto, qualquer veleidade reformista se choca contra graves oposições, sobretudo dos privilegiados; porém, paradoxalmente, é a contestação lançada por estes que vai servir de estopim à Revolução. A urgência da crise financeira vai soltar a trava do sistema e conduzir, de maneira bem pouco previsível, ao triunfo das soluções radicais, que apenas de forma imperfeita corresponderão à contribuição do Iluminismo.