
Associado ao espírito nacional que ao longo dos finais do século XX desenterrou-se dos subterrâneos da opressão colonial para se erguer e afirmar o aparato literário nacional com base nos valores culturais identitários do povo guineense.
A coletânea Nos Porões Das Palavras representa a continuidade desse vento que desde 1951 soprou-se com Vasco Cabral, Pascoal D´Artagnam Aurigemma, James Pinto Bull e atravessando Carlos Semedo e alcança a plenitude da geração de combate de José Carlos Schwarz, António Soares Lopes Júnior, Agnelo Augusto Regalla, Francisco Conduto de Pina, António Baticã Ferreira, Tavares Moreira, Armando Salvaterra … nos anos 70, e que ainda segue o ziguezaguear do destino do nosso povo que ora nostálgico, ora próspero.
Contextualmente, toda obra literária faz parte de uma trajetória do vivido, de experiências e ambivalências sociais, culturais e políticos aos quais a própria obra e o poeta estão intimamente inseridos e historicamente relacionados.
Para contextualizar Nos Porões Das Palavras, que reúne uma coletânea de djuntamon de poemas originais, é preciso registrar a presença de movimentos literários e organizações da cultura, assinalando a atuação política de intelectuais e artistas que desde a segunda metade do século XX trazem ao público, numa literatura ainda em construção e variada, a afirmação dos valores culturais do povo guineense ao lado de críticas de cunho político social.
De forma sintética, os poemas celebram o amor, tanto do ponto de vista de relações efetivas com a terra, rios, florestas e famílias, quanto reveladora de “dispididas”, angustias, ambiguidades, trajetórias, tensões, conflitos, latentes e explícitos, “fofocas” etc.
Juntam-se, nesse íntimo, sentimentos comuns e percursos particulares ambivalentes em cuja estampa coloca à disposição do público leitor uma abordagem poética rica retratada com a estética de panu di pinti e letras de cantigas-ditos de mandjuandades que preserva as especificidades identitárias e respeita a alteridade genuína em que se constituiu conexões África-Brasil através da presença viva de mulheres djakankas que reinventam-se as suas condições de produção poética, interpelações e manifestações de suas subjetividades artísticas do ato literário do sentir, do criar, do refletir e do pensar a literartura guineense.
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