Peregrinação Vol. I

A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto tem uma história externa quase tão fascinante quanto aquelas que traz em suas páginas.
Comecemos por ela.
Quando veio a público em 1614, fazendo justiça ao nome, a obra genial de Mendes Pinto já tinha vivido mais de trinta anos entre silêncio e mistério.

Pronto desde 1580, o manuscrito foi deixado sob os cuidados das filhas do autor, que, após a sua morte, em 1583, o entregaram à Casa Pia das Penitentes de Lisboa, uma instituição de caridade criada por D. João III para amparar mulheres de rua e pela qual Mendes Pinto mantinha “particular devoção”, como se lê na dedicatória da primeira edição.
Cumpriam, assim, as filhas a vontade expressa do pai, que houvera doado “por morte” àquela Instituição o “largo itinerario de seus trabalhos para que os interesses da impressão delles fosse hum pequeno subsidio de suas necessidades”, segundo ainda a mesma dedicatória.
Vinte e três anos correriam do final da redação do manuscrito à autorização de duas das três licenças devidas para impressão, em 1603, passados, portanto, já vinte anos da morte do autor.
Muito se especula sobre o que teria ocorrido nesse intervalo. As hipóteses, as mais diversas, vão do medo que Mendes Pinto tinha de publicar o livro em vida à manipulação
do texto pelos jesuítas, uma vez que a ele tiveram largo acesso e coube a um deles, o Padre Francisco Pereira, rever o manuscrito, tachando-o de “fabuloso” – o que, há de convir-se, não é o bastante para acusá-lo(s) de ter promovido cortes no texto.
Uma das poucas certezas que se tem, contudo, é que, nesse período, Francisco de Andrade, cronista de D. João III, e vizinho da família de Mendes Pinto em Almada – provavelmente a pedido desta –, também submeteu o manuscrito a uma revisão.
Sua intervenção resultou numa mudança estrutural de vulto: ele o dividiu em capítulos, atribuindo-lhes os respectivos enunciados, tarefa que muito facilitou a vida dos leitores de todos os tempos, pois evitou que uma boa parte deles naufragasse naquele antes ininterrupto caudal de palavras.
Mas desconfia-se que não tenha ido muito além disso a contribuição de Andrade – desconfiança que se converte em certeza quando se cotejam os dois modos distintos de escrever, o seu e o de Mendes Pinto.

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A Peregrinação

de Fernão Mendes Pinto tem uma história externa quase tão fascinante quanto aquelas que traz em suas páginas.
Comecemos por ela.
Quando veio a público em 1614, fazendo justiça ao nome, a obra genial de Mendes Pinto já tinha vivido mais de trinta anos entre silêncio e mistério. Pronto desde 1580, o manuscrito foi deixado sob os cuidados das filhas do autor, que, após a sua morte, em 1583, o entregaram à Casa Pia das Penitentes de Lisboa, uma instituição de caridade criada por D. João III para amparar mulheres de rua e pela qual Mendes Pinto mantinha “particular devoção”, como se lê na dedicatória da primeira edição.
Cumpriam, assim, as filhas a vontade expressa do pai, que houvera doado “por morte” àquela Instituição o “largo itinerario de seus trabalhos para que os interesses da impressão delles fosse hum pequeno subsidio de suas necessidades”, segundo ainda a mesma dedicatória.
Vinte e três anos correriam do final da redação do manuscrito à autorização de duas das três licenças devidas para impressão, em 1603, passados, portanto, já vinte anos da morte do autor.
Muito se especula sobre o que teria ocorrido nesse intervalo. As hipóteses, as mais diversas, vão do medo que Mendes Pinto tinha de publicar o livro em vida à manipulação
do texto pelos jesuítas, uma vez que a ele tiveram largo acesso e coube a um deles, o Padre Francisco Pereira, rever o manuscrito, tachando-o de “fabuloso” – o que, há de convir-se, não é o bastante para acusá-lo(s) de ter promovido cortes no texto.
Uma das poucas certezas que se tem, contudo, é que, nesse período, Francisco de Andrade, cronista de D. João III, e vizinho da família de Mendes Pinto em Almada – provavelmente a pedido desta –, também submeteu o manuscrito a uma revisão.
Sua intervenção resultou numa mudança estrutural de vulto: ele o dividiu em capítulos, atribuindo-lhes os respectivos enunciados, tarefa que muito facilitou a vida dos leitores de todos os tempos, pois evitou que uma boa parte deles naufragasse naquele antes ininterrupto caudal de palavras.
Mas desconfia-se que não tenha ido muito além disso a contribuição de Andrade – desconfiança que se converte em certeza quando se cotejam os dois modos distintos de escrever, o seu e o de Mendes Pinto.

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