A coletânea América Latina Em Foco: Perspectivas Mltidisciplinares Sobre Direitos Humanos E Ambientais traz a lume uma riqueza de posicionamentos teóricos e ideológicos sobre uma relação humana com o meio ambiente, alçando o problema ambiental à categoria de primaz contributo ao aspecto da totalidade ética entre o homem e a natureza, pois não se pode reduzir a uma perspectiva antropocêntrica a existência humana; foi-se a era de um domínio hostil do homem sobre a natureza, conforme acreditou o positivismo no século XIX, como se a natureza fosse escravizada à vontade humana.
Ao contrário, a existência humana descobriu-se, no século XX, diante do incontornável problema de sua ambientalidade radicada na Terra. Diante das guerras e da desumanização do homem-indivíduo, o reconhecimento da regeneração humana voltou-se para o pensamento dos fundamentos radicais da vida, de sua relação estrutural com a natureza, enquanto consciência ecológica, debatida a partir de Estocolmo, em 1972. Criou-se a consciência do homem-ambiental.
O foco da obra ainda traz um problema adicional, que é o subdesenvolvimento humano latino-americano. Aqui o desrespeito à dignidade humana e ao meio ambiente alia pobreza e destruição da natureza numa díade catastrófica de degradação das forças vitais em sua globalidade. A perspectiva do Direito Ambiental não pode ser dissociada do problema do desenvolvimento integral humano; essa é a tônica geral da obra e sua apregoação científica.
Raras são as temáticas sobre o Direito latino-americano que associam Direito Ambiental e Direitos Humanos, daí o fato de a obra ser autêntica; a obra defende o meio ambiente como base do desenvolvimento humano, ao gestar reflexões jurídicas de caráter estruturante de modificações de nossa realidade de exploração e carência de revalorização do homem na e frente à natureza.
O contexto do homem nordestino, sua lida contra a devastação ambiental e a carência de políticas públicas para tutela de tais mazelas; a ideia de uma política jurídica de intervenção ambiental; a ideia de uma ressignificação da ambientalidade e os projetos de intervenção corretiva do fator de subdesenvolvimento humano são exemplos de temas interessantes que a coletânea trata de forma científica, sem demagogia ideológica.
O inter-relacional entre homem e ambiente é mais do que simplesmente dado, ele é reconstruído com possibilidades metodológicas e jurídicas pluralistas; já não se pode pensar em um esvaziamento de conteúdo entre meio-ambiente e dignidade humana, porquanto não há hiato entre esses termos, mas uma necessidade de correlação e compromisso integradores.