
A obra de Fábio Nogueira de Oliveira tem o principal mérito de sintetizar o pensamento do maior sociólogo brasileiro, Clóvis Moura. A qualificação de maior sociólogo brasileiro não se baseia na quantidade e densidade da sua obra.
Esta qualificação se dá fundamentalmente porque é Clóvis Moura é um caso raro entre os estudiosos da realidade brasileira ao ter se debruçado no aspecto central da estrutura de nossa sociedade: o racismo.
Moura não é um especialista em relações raciais apenas. Ele é um pensador que coloca no centro da estrutura social brasileira, o racismo. Por esta razão, é um autor de referência na compreensão dos fenômenos sociais brasileiros.
E a perspectiva moureana sobre as relações raciais e o racismo no Brasil têm uma outra característica que a torna ímpar: ela é realizada a partir da observação densa da práxis da população negra desde o período da escravização até o regime capitalista.
Clóvis Moura tem o grande mérito de deslocar o foco do olhar sobre as estruturas sociais. É a partir do oprimido (negro) que constrói o arcabouço teórico que possibilita um olhar original sobre as relações raciais brasileiras. O grande mérito desta obra de Oliveira é detectar esta dimensão epistêmica da obra moureana classificada como sociologia da práxis.
Não se trata apenas de um posicionamento político de Clóvis Moura contra o racismo, o que não o diferenciaria de outros intelectuais que estudaram a temática (casos, por exemplo, dos pensadores que configuraram a chamada Escola de Sociologia de São Paulo, como Florestan Fernandes, Otávio Ianni, entre outros), mas de constituir um arcabouço teórico de pensamento que fundamenta as práticas de combate ao racismo.
O trabalho intelectual de Clóvis Moura se insere, assim, em uma práxis política que, de resto, é a própria práxis política da negra e do negro brasileiro.
Oliveira reconstitui esta trajetória intelectual de Clóvis Moura abordando as suas experiências e vivências, demonstrando o trânsito que o pensador brasileiro tem entre círculos intelectuais, militância e situações que evidenciam a opressão.
A errância entre estes vários espaços, motivada, segundo Oliveira, por desencantos, constituiu um processo de formação intelectual original em Clóvis Moura que transparece na constituição do seu pensamento.
O incômodo gerado pelas limitações do espaço meramente acadêmico e sua linearidade institucional serviu como combustível para impulsioná-lo para a trajetória que percorreu.
