
Em 2008, Ayaan Hirsi Ali, escritora e ativista somali, esteve no Brasil para participar da conferência Cruzando Fronteiras, no curso de altos estudos Fronteiras do Pensamento, realizado em Porto Alegre e em Salvador, apresentando ferramentas para o desenvolvimento dos sujeitos e da sociedade, daí o convite às diversas personalidades mundiais para debater e analisar o cenário contemporâneo.
Cerca de 1.500 pessoas que assistiram ao ciclo de conferências puderam ouvir a história de vida da somali naturalizada holandesa. Na ocasião, Hirsi Ali testemunhou sua perseverante busca da liberdade de expressão feminina na cultura islâmica e em outras culturas, apontando para a importância da ressignificação do pensamento, sobretudo, das próprias mulheres, para que possam ser sujeitos livres, assim como ela o foi quando rompeu as fronteiras do pensamento frente à censura nos países islamizados pelos quais passou.
Esta escrita foi delineada a partir do contato com essas e outras imagens de Ayaan Hirsi Ali veiculadas na mídia, as quais instigaram a leitura do seu best-seller autobiográfico: Infiel, A História De Uma Mulher Que Desafiou O Islã. Em um contexto de estudos sociológicos, despertou-se o desejo de estudar as experiências da trajetória de vida de Ayaan Hirsi Ali, desde o caminho que traçou entre a infância e a juventude, vividas na África e na Ásia, até a sua vida adulta na Europa.
Sob essa perspectiva, objetivou-se, neste estudo, investigar os modos de constituição de si nos diversos espaços em que Ayaan Hirsi Ali transitou, a partir de seus exílios representados em Infiel, escrita que fez emergir temas instigantes que vão desde os retratos da cultura africana no contexto de islamização da Somália até a reflexão sobre a defesa do multiculturalismo na Europa.
Evidenciando as memórias traumáticas e a experiência individual de ser mulher no Islã, Ayaan Hirsi Ali chamou a atenção do público ocidental a partir de sua autobiografia, que permaneceu durante 31 semanas na lista de best-sellers da New York Times, fato que evidencia a recepção arrebatadora, pois essa revista norte-americana tem extenso público e ampla visibilidade na cena midiática.
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