
A publicação de A História Da Loucura Na Idade Clássica foi um acontecimento marcante. De toda maneira que o releiamos nos dias de hoje, comprovaremos que trata-se de um livro que fez – e faz – época.
Os debates que suscitou são regularmente retomados por historiadores, filósofos, politicólogos, psiquiatras e psicanalistas.
A riqueza do material histórico, a audácia das hipóteses postas em ação, o caminho percorrido (antes de mais nada, no pensamento do próprio Foucault), tudo isso justifica que queiramos agora, não fazer um balanço da obra ou celebrá-la – e nem mesmo avaliar o que teria significado – mas sim analisar no processo o que ela ainda nos faz pensar: a loucura, hoje e amanhã, em diversas instituições e disciplinas, e também para além delas – as clausuras institucionais e disciplinares também foram temas de “A História Da Loucura”.
Foi com esse espírito que se realizou, no dia 23 de novembro de 1991, o IXº Colóquio da Sociedade Internacional de História da Psiquiatria e da Psicanálise.
Como título “História Da Loucura, Trinta Anos Depois”, esse Colóquio foi aberto por Georges Canguilhem e reuniu contribuições de destacados especialistas das mais diversas áreas.
Leituras Da História Da Loucura traz os trabalhos de Elisabeth Roudinesco, René Major e Jacques Derrida, que iluminam, a partir de pontos de vista variados, a importância — no passado e no presente — da obra de Foucault.
Ao longo dos anos que se seguiram à publicação da História Da Loucura, a crítica dos psiquiatras, psicólogos e historiadores da psicopatologia foi ao mesmo tempo virulenta e ambivalente.
Michel Foucault denunciava todos os ideais sobre os quais repousava seu saber. Ele destroçava a prolongada persistência do humanismo pineliano e declarava guerra a todas as formas de reformismo institucional:
“Este livro não pretendeu contar a história dos loucos ao lado dos
indivíduos racionais, diante deles, nem a história da razão em sua oposição
à loucura. Tratava-se de narrar a história de sua divisão incessante,
mas sempre modificada. Não foi a medicina que definiu os limites
entre a razão e a loucura, mas, desde o século XIX, os médicos foram
encarregados de vigiar a fronteira e de guardá-la. Ali assinalaram ‘doença
mental’. A indicação significa interdição.”
