O jesuíta argentino Juan Carlos Scannone, falecido no dia 27 de novembro de 2019, aos 88 anos de idade, foi sem dúvida, uma das figuras mais influentes do pensamento filosófico e teológico latino-americano nos últimos cinquenta anos. Destacou-se por sua contribuição original para o que foi chamado de Filosofia da Libertação e de Teologia do Povo.
A irradiação de sua mensagem ultrapassou os umbrais da academia, atingindo o grande público, quando foi identificado como professor, amigo e inspirador da teologia do Papa Francisco. A produção científica de Scannone, que se estende até os seus últimos dias de vida, abrange, em primeiro lugar, oito livros fundamentais de sua exclusiva autoria, sem falar de alguns escritos menores publicados em anos recentes no contexto da eleição de Jorge Mario Bergoglio para bispo de Roma e pastor universal da Igreja Católica.
São pelo menos dezoito as obras nas quais aparece como editor ou co-editor com contribuições próprias. Os artigos e demais capítulos de livros em espanhol, italiano, alemão, francês e português, superam a marca de duzentos e cinquenta. Publicações tão numerosas revelam não só a riqueza de seu pensamento e sua capacidade de escritor consumado, mas também uma das características específicas da vida intelectual desse homem de fé, sua paixão por contribuir, através da reflexão sobre o sentido da existência, sobretudo na sua dimensão social, para a construção de um mundo mais justo e fraterno, onde todos tenham condições de uma vida digna na verdade e no amor.
Tomando como pressuposto de sua vida acadêmica a experiência espiritual que brota da vida de fé no Deus de Jesus Cristo, podemos apontar, a partir das palavras citadas, dois traços básicos do pensamento de Scannone, a dimensão prática e o caráter inculturado. A esses acrescentamos um terceiro elemento, a atitude integradora e construtiva de diálogo, que ele não explicita aqui, mas que marca profundamente toda a sua vida intelectual.