Quando Robert Southey começou a redigir a primeira história crítica do Brasil, escolheu iniciar o livro pela Amazônia. Ele relatou, então, a “descoberta” da região por Vicente Yañes Pinzón. O paradoxo é evidente: o primeiro a encontrar a futura colônia de Portugal era um espanhol. Mas o escritor inglês acabou nos deixando um importante princípio, já que estudar a colonização amazônica é, realmente, inseri-la no processo de avanço das fronteiras lusitanas.
Tratamos nesta obra da contribuição dos missionários para a constituição e consolidação dos limites entre as duas coroas ibéricas.
As missões eram “instituições de fronteira”, como escreveu Charles Boxer. Graças aos direitos do padroado, os reis podiam escolher quem iria para as Américas e onde ficaria estabelecido.
Relativamente controlados pela política das metrópoles, os religiosos, entretanto, embarcavam motivados pela fé. Tinham por vocação fundamental a tarefa de expandir o Reino de Deus.
De que modos o reino político e o divino se sobrepunham no século XVIII? Esta foi a época em que os tratados estabelecendo os “reais limites” das colônias foram assinados. É, portanto, um momento privilegiado para compreendermos como se davam as relações entre os reinos temporal e espiritual. O espaço de análise escolhido está justamente na região de conflito mediando as bacias hidrográficas do Orenoco e do Amazonas.
O tema por si só nos impõe a entrada no rico filão da história comparativa inaugurada por Southey1. Mas não faremos como Manuel Bomfim ou Sérgio Buarque do Holanda, que encontraram na comparação uma forma de encontrar a identidade brasileira. Aproximando-nos muito mais da proposta de uma história cruzada.
As teorias atuais sobre as zonas fronteiriças chamam a atenção exatamente para os cruzamentos, as indistinções e “porosidades” das linhas demarcatórias.
Para o estudo da questão a abordagem teórica recente é válida se complementada pelo processo oposto ao das hibridizações: as distinções. Por isso, analisando a demarcação dos domínios entre a coroa espanhola e a lusitana pode-se captar tanto as trocas identitárias quanto a organização de um sistema de diferenças perpassando as colônias e as metrópoles.
Embaixadores De Dois Reinos
- História, Literatura, Religião
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