Dino Buzzati – O Deserto Dos Tártaros
Dino Buzzati era um italiano de Belluno. O que quer dizer que estava longe da Itália barulhenta, ensolarada e alegre difundida pelo turismo e pelas comédias descartáveis.
Belluno é quase Áustria, cheia de névoa e frio, o que explica um pouco a atmosfera rarefeita de O Deserto Dos Tártaros.
Viveu sempre em Milão, trabalhando no Corriere della Sera, jornal que nunca deixou, mesmo quando já era um escritor consagrado.
Em 1940 foi publicado pela primeira vez, O Deserto Dos Tártaros foi imediatamente reconhecido como algo novo e importante, mas teve que esperar alguns anos até ser distribuído nas famosas edições de poche, quando deixou de ser apenas um belíssimo livro italiano para se transformar, pela força da difusão cultural francesa, num clássico europeu.
O que nos conta O Deserto Dos Tártaros?
Um jovem militar é designado para servir numa fortaleza nas montanhas, solitária, quase esquecida, que em tempos remotos foi importante defesa contra os tártaros, que costumavam chegar pelo deserto que se estendia ao longo do vale.
Nesse lugar isolado, fincado entre altas escarpas, a função de todos era estar preparados para o dia em que os tártaros voltassem. O jovem militar, de cima das muralhas, examina o deserto imaginando e ansiando pelo dia da batalha, o grande dia em que um fato notável justificará sua vida. Seus olhos se cansam de vasculhar o horizonte. Os tártaros não vêm.
O cotidiano transcorre medíocre, o tempo vai passando, mas o soldado não consegue abandonar o forte e mudar sua vida. Continua olhando obstinada e disciplinadamente o deserto, sob o céu silencioso.
Romance alegórico? Romance de humor negro? Romance surrealista? Romance da vida militar? São várias as possibilidades.
O próprio Buzzati fornece a pista: “De 1933 a 1939 trabalhei no Corriere della Sera no período noturno. Era um trabalho monótono e aborrecido, e os meses passavam, e passavam os anos, e eu me perguntava se seria sempre assim, se as esperanças, os sonhos, inevitáveis quando se é jovem, iriam se atrofiar pouco a pouco, se a grande ocasião viria ou não.”
É isso. Não é sobre a vida militar que fala o livro, mas sobre a vida de todos nós.
Fala da vida como uma aposta na imobilidade. Se não fizermos nada além de aceitar as coisas como são, um dia algo virá para redimir nosso pobre cotidiano, algo notável e brilhante que a vida nos reserva mais para a frente.
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