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Como o Jano bifronte da Roma Antiga, a proposta da compreensão tem duas faces – embora não seja duas-caras. Por um lado trabalhamos seus aspectos intersubjetivos, de percepção do Outro, de valores e culturas essencialmente distintos dos nossos; por outro, temos a dimensão epistemológica compreensiva, aquela que busca promover o diálogo entre aqueles teóricos que não se bicam, aquelas abordagens que alguns julgam incompatíveis, entre campos e áreas que atravessam a rua quando se deparam na mesma calçada – e, num nível mais fundamental, promover o diálogo entre formas de saber que muitas vezes fingem não se ver, como parentes brigados há tanto tempo que nem recordam mais os motivos.
Saber e conhecimento, como dizemos sempre, numa perspectiva mais ampla, que abarca para além das ciências as artes, os mitos, as religiões e outras formas tradicionais de olhar para o mundo e tentar lhe atribuir significado. Inter, multi, trans e indisciplinar.
Este Pensar Com O Signo Da Compreensão é o quinto livro de uma série integralmente dedicada a desvendar a compreensão como método a partir das mais diversas perspectivas, reunindo treze capítulos cujos autores se propõem a discutir, mais especificamente, como pensar de forma compreensiva – como, efetivamente, construir um olhar epistemológico que abrace os mais diversos saberes, em vez de separá-los, compartimentá-los, fatiá-los.
Aqui simultaneamente encerramos uma fase dos projetos relacionados à compreensão e damos início a uma nova, agora junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, e sempre com a parceria do Departamento de Comunicaciones da Universidad de Antioquia.
Quem nos lê talvez pense: “Ah, que beleza, este livro vai me dizer tudo o que preciso saber sobre compreensão!” Se for o caso, temos uma ótima notícia para você: não dirá; e não pretendemos nunca escrever um que diga. Um de nossos preceitos fundamentais é, justamente, que a ideia de algo definitivo, estabelecido, imutável, certo, é uma falácia.
Chegarmos um dia a delimitar claramente “compreensão é _” implica imediatamente pôr fim, destruir o projeto de investigação compreensiva. A resposta, já deveríamos saber, é a morte da pergunta – e a pesquisa em compreensão requer, antes de qualquer outra coisa, um espírito curioso que não se cansa de perguntar e não tem pressa em responder.
Por isso preferimos trabalhar com noções em lugar de conceitos – aquilo que já está estabelecido, pronto para ser apenas aplicado e reproduzido já está morto. Criar dogmas, angariar seguidores, criar uma lista de instruções e procedimentos a serem burocraticamente seguidos não nos interessa.
Que propósito há, afinal, em se trilhar um caminho quando já se conhece todo o percurso, quando este não trará nada de novo?
O caminho, sabemos, se faz ao caminhar, e cada pesquisador compreensivo cria o seu próprio – não isoladamente, claro, mas em diálogo com os demais, com aqueles que caminham junto, cada um em seu próprio ritmo, em sua própria trilha, todos instigados pela chama do compreender, sem destino certo, sem data para terminar.
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