Em 1900, o primeiro número da Revista da Semana publicou um artigo sobre como seria o Brasil cem anos mais tarde. O autor chamava-se Urbano Duarte, um cronista que imaginou o Rio de Janeiro com avenidas de fazer inveja à magnífica Champs-Élysées.
Ele escreveu que, em 2000, a rua do Ouvidor seria um “vasto e belíssimo boulevard”, ladeado por admiráveis construções, cafés com varandas e armazéns de modas “à feição do Bon Marché”. Ainda existiriam gatunos, falsificadores e endividados, pois o progresso moral, admitiu o autor, é sempre lento e difícil. Em compensação, os brasileiros não sofreriam mais de tuberculose nem seriam aterrorizados pela febre amarela.
Segundo o cronista, as moças do futuro também dariam motivo a elogios, pois todas saberiam “pisar com mais elegância e falar com mais correção”. Para a geração de Duarte, o andar e a prosa das mulheres eram muito importantes: enfeava-as definitivamente ou, ao contrário, dava-lhes graça e formosura.
Duarte não foi o único homem letrado daquela época a escrever ficções desse tipo. Muitos dos progressos desejados tendiam a seguir as tendências burguesas e parisienses, a primar pelo que entendiam ser o refinamento das aparências e dos costumes.
Difícil encontrar naquelas previsões a atual imagem de jovens, para além das cariocas, vestidas com roupas esportivas, ao lado de homens consumidores de cosméticos cujas fórmulas seriam inimagináveis em 1900.
Mais improvável ainda seria vislumbrar as praias brasileiras em 2000, repletas de pessoas quase nuas expostas ao sol. Pensar que as cidades teriam várias academias de ginástica e clínicas para o rejuvenescimento especializadas em cirurgia plástica seria algo tão difícil para Duarte quanto acreditar que uma cidade como Brasília viria a ser a capital do Brasil.
Para o leitor atual, também não é fácil realizar o exercício contrário, de reconstruir o passado. Há documentos que ajudam a limitar os devaneios do presente, transformando uma parte da ficção em história. Mesmo assim, não é totalmente evidente perceber todos os significados daquilo que a geração de Duarte chamava de “arte da belleza”.
Principalmente quando se dizia que a dita arte disfarçava a ausência de graça daquelas moças que, nas palavras do cronista, “careciam de elegância”.
História Da Beleza No Brasil
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