Neste livro é contada a história da vivência do povo Guarani no oeste do Paraná.
Mas a nossa história não começou com o que está nesse livro. Porque antes do branco invadir o oeste do Paraná, o Guarani fazia sua casinha aqui, fazia casinha ali, fazia a rocinha para plantar, caçar, pescar, tudo era nossa vivência, não tinha preocupações, não tinha vários compromissos com o branco. Aquele tempo era tudo mato, tinha remédio e água boa, frutas e tudo que a gente precisava.
O Guarani não tinha preocupação com nada. Sobre a educação, a gente tinha mais tempo de aconselhar as crianças e manter a criança como a gente queria, porque na época não tinha escola nem jogo de futebol. Depois, com a vinda dos brancos, mudou tudo.
Então, este livro vem falar dessa mudança, de como nossa terra foi roubada; vem falar da continuidade da luta pela terra e, principalmente, de como a história do nosso povo pode ajudar a recuperar parte de nossa terra, que era nossa natureza.
Esse livro terá grande serventia para nosso povo e nossa comunidade. Ele serve para quem está estudando na escola. A escola deve ter muitas cópias, todos os alunos devem ter uma cópia. Ele serve também para a liderança, porque ele ajuda a liderança a entender melhor o que aconteceu com nosso povo. Ele serve para todas as comunidades Guarani da região. Ele serve também para os brancos, que chamamos Juruá Kuery, porque eles também precisam conhecer nossa história, saber o que aconteceu com nosso povo.
Portanto, o livro serve para os alunos, para as lideranças e para o jovem principalmente, por causa da terra. Esse livro ajuda a entender o que aconteceu com nossa terra, nos fortalece porque temos que manter, segurar e aumentar nossa terra. Esse livro é fundamental para nossa liderança para ajudar na continuação da luta.
A gente sempre contou essa história, nunca esquecemos dela, mas agora tem as fotografias para confirmar. Essas fotografias mexeram muito com as pessoas, porque várias pessoas que aparecem nas fotos já morreram, muitos lugares não existem mais. Fez lembrar os tempos passados, lembrar dos parentes que tão longe. Muitos cemitérios ficaram embaixo d’água, nunca retiraram os corpos de nossos parentes, dos Juruá Kuery sim, mas do Guarani não.