O livro O Duplo, o Espelho, A Sombra é formado por quinze capítulos que tratam sobre a fragmentação psicológica de personagens e a sua dificuldade em estabelecer relações com aqueles com quem convivem.
O duplo é instrumento recorrente em histórias ficcionais, lendas, processos de simbolização e expressões artísticas. É através dele que se dá o processo de (res)significação das personagens, que proporciona ao leitor ou espectador um entendimento maior sobre o relacionamento dessas personagens com outros indivíduos, bem como com os espaços físico temporais que ocupam.
Entre os autores selecionados para as análises, temos (em ordem alfabética) Alan Moore, Arthur Conan Doyle, Charles Dickens, Charlotte Brontë, Daniel Defoe, E. T. A. Hoffmann, Edgar Allan Poe, Jean Rhys, Robert Louis Stevenson, Robert Sawyer, Toni Morrison, Truman Capote, Valerie Martin, William Peter Blatty e William Shakespeare.
Quanto aos recortes teóricos, como não podia deixar de ser, predominam as leituras feitas através de Sigmund Freud (Das Unheimliche), Otto Rank (Doppelgänger), Carl G. Jung (Sombra) e Tzvetan Todorov (Fantástico).
Num breve apanhado sobre os assuntos tratados, o primeiro e o segundo capítulos abordam o conto “Miriam”, de Truman Capote. Adriane Veras se concentra na dupla possibilidade de interpretação: estaria a senhora idosa perdendo o contato com a realidade devido ao longo período de reclusão, ou mesmo por conta de sua idade avançada? Ou se trata de um fantasma que veio assombrar o seu apartamento?
André Bednarski e Rosalia Garcia, por outro lado, rompem as barreiras entre o real e o ficcional em busca de motivações psicológicas ligadas à vida do autor que são trabalhadas metaforicamente no conto. Analisam o texto como estrutura, indicando (via Mieke Bal) as possibilidades de focalização que a obra apresenta.
Leonardo Poglia Vidal, no Capítulo 8, faz um movimento semelhante, valendo se do ensaio “A Morte do Autor” (1968), de Roland Barthes, para examinar as ocasiões em que Alan Moore surge como personagem em suas próprias histórias, o que confere aos textos características de uma autobiografia ficcional.