
Que há de comum entre um pássaro insectívoro, a arte da olaria e o ciúme conjugal? Entre o pensamento especulativo dos índios e o dos psicanalistas? Entre uma tragédia de Sófocles e uma comédia de Labiche? São estas as questões que o autor, um dos maiores nomes da Antropologia, trata nesta obra fundamental.
A partir do mito Jívaro, Lévi-Strauss acentua como o ciúme conjugal é característica dos engole-ventos (se Sol e Lua soubessem dividir bem a mulher engole-vento, nada teria acontecido): “O pássaro aparece em primeiro plano nos mitos cujo tema é a separação ou desentendimento entre os sexos, devido ao ciúme entre dois homens com relação a uma mulher, ou ciúme de um ou uma amante rejeitado(a), ou ainda à impossiblidade da união de dois amantes, ou aos desentendimentos de um casal.
Mesmo nos mitos em que o engole-vento aparece como autor ou resultado de uma decapitação, os motivos mencionados não estão totalmente ausentes: a decapitação também acarreta uma separação. Como o casal separado, a cabeça ou o corpo desligados um do outro sofrem a perda da outra parte”.
Mais adiante, a Oleira Ciumenta, em uma série de mitos, vai dando ênfase à oralidade, à avidez e à gula como atributos fundamentais dos engole-ventos. Num mito Kayapó, “um marido malvado trata a mulher como escrava, e proíbe-a de comer carne e de tomar água.
Durante a noite, ela sente uma sede terrível. Sente vontade de aproveitar enquanto o marido dorme e ir ao lugar onde as rãs coaxam, sinal de que lá deve haver água; mas teme que o homem descubra a sua ausência.
Então ela tem a idéia de se dividir em dois pedaços; o corpo ficaria ao lado do marido, e a cabeça voaria, usando os longos cabelos como asas, para matar a sede. Mas o marido acorda, percebe o truque da mulher e espalha as brasas da fogueira.
A cabeça não consegue encontrar o caminho de volta para a casa, agora às escuras. Voa a noite toda em busca de seu corpo, enquanto o marido o assa. Continuando a voar, transforma-se em Engole-vento. Passamos assim do motivo do guloso ou da gulosa egoísta para o da decapitação.”
