Em um texto bastante célebre, o britânico Roger Silverstone faz algo que se tornou tradição nos estudos da comunicação: para entender o funcionamento das mídias, chamou para a conversa alguém do quilate de Aristóteles e revisou conceitos antigos, há muito cristalizados nas ciências humanas e sociais, revestindo-lhes de atualidade. No caso, a pretensão de Silverstone foi usar o pensamento do filósofo para defender o que ele denomina uma “poética da mídia”; ou seja, um método de compreensão de como as histórias funcionam em diálogo com a vida cotidiana e do que elas propiciam em termos de experiências estéticas, modelos de vivência e linguagens.
Pode-se ver, aí, uma proposta de vigor: superar a ideia de que leituras de mercado, estudos de recepção/produção ou análises narrativo-discursivas conseguem, isoladamente, dar conta da complexidade do funcionamento de um jornal, de um filme, de uma campanha publicitária, de uma radionovela, de um reality show ou de um aplicativo para conteúdos on demand. Afinal, é da costura e da complexidade nos modos de ver que nascem as melhores reflexões sobre a poiesis operada em nossos dispositivos, gadgets e telas.
Ao ponderar que os textos midiáticos, embora capazes de fraturar identidades e experiências e nos tornar “foliões num carnaval sem fim”, também mantêm enorme capacidade de “moldar significado”, “propiciar prazeres” e “criar comunidades”, o autor nos sinaliza a necessidade de escapar de constatações catastróficas que ainda assombram o estudo da mídia. Enxergar as histórias nela veiculadas como artefatos e reflexos de nossa cultura supõe ir além da crítica-pela-crítica, assim como da mera exaltação de vantagens tecnológicas.
Como Silverstone sugere, precisamos evitar olhares instrumentalizados e pensar, cada vez mais, em uma poética das narrativas em diversos suportes, gêneros e formatos, tomando-as como registros particulares de algo que é geral e natural ao humano: o desejo de falar, escutar e ser ouvido.
Desejo de contar histórias e de algum modo participar delas, em suma; algo que está por trás de muitas hipóteses e problemáticas de pesquisa em comunicação e mídia.
Mídia, Experiência E Interação: Leituras Críticas Sobre A Comunicação
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