
Em seu trabalho como jornalista e escritora, Bianca Santana vem se empenhando (e se especializando) em promover espaços de expressão e escuta de vozes pouco notadas, por vezes muito silenciadas.
Essa prática amplifica tecnologias criadas por mulheres anônimas e outras conhecidas para enfrentar e se sobrepor ao racismo estrutural e cotidiano na busca de uma existência humana plena.
O substantivo inspiração é quase um mantra contemporâneo: busca-se a inspiração, valoriza-se o que ou quem inspira. Não é diferente neste Inovação Ancestral De Mulheres Negras: Táticas E Políticas Do Cotidiano. Afinada por esse diapasão, a escrita de si se fortalece e inspira outras mulheres a se tornarem mais fortes pela valorização do que são.
Os 26 depoimentos deste Inovação Ancestral De Mulheres Negras apresentam diferentes mulheres, únicas e singulares, mas irmanadas às dores, superações e vitórias de tantas. Os textos se constituem como “histórias incompletas e partes de histórias que, desde antes do início, não tivemos acesso”, conforme pontuou umas das depoentes, Débora Marçal.
Neste livro, são generosamente reconhecidos os limites das mulheres que educaram as depoentes ou que não puderam fazê-lo.
Histórias que, a princípio, eram lidas apenas na chave do abandono são ressignificadas no contexto maior de compreensão das opressões que pesam sobre todas as mulheres negras e dos reflexos disso na vida de quem é educada por essas mulheres.
Abusos sexuais e estupro, por sua vez, foram ficcionalizados em uma espécie de psicodrama, para que pudessem, enfim, ser nominados. É mais uma tecnologia de sobrevivência de quem foi alvo desse tipo de agressão tão vil.
São também numerosos os relatos de vitórias, como o de Winnie, que aprendeu com a avó a “caminhar nos lugares onde dizem que não podemos caminhar”. Ela nos ensina também essa lição à medida que ouvimos todas as vozes deste Inovação Ancestral De Mulheres Negras.
A gente escolhe o que contar. A memória é uma ilha de edição, nos lembrava Wally Salomão e, nessa escolha, nos reinventamos, nos oferecemos melhores destinos, nos possibilitamos finais de histórias mais positivos e promissores.
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