O Poder: História Natural De Seu Crescimento

Este é um livro de guerra sob todos os aspectos.
Foi concebido na França ocupada e sua redação foi iniciada no refúgio do mosteiro de La Pierre-Qui-Vire, sendo que o caderno que o continha formava nossa única bagagem quando atravessamos a pé a fronteira suíça em setembro de 1943.

A generosa hospitalidade helvética nos permitiu o prosseguimento do trabalho, publicado em Genebra em março de 1945, aos cuidados de Constant Bourquin.
Mas é um livro de guerra em um sentido bem mais substancial, tendo surgido de uma meditação sobre a marcha histórica rumo à guerra total.
Eu havia esboçado esse tema num primeiro escrito, "Da concorrência política", levado da França por Robert de Traz, que o publicou em janeiro de 1943 na sua Revue Suisse Contemporaine. A presente obra desenvolveu-se em torno desse breve enunciado (conservado como capítulo VIII do livro).
É ali que o leitor encontrará o princípio da cólera que anima este trabalho, que fez seu sucesso e explica alguns de seus excessos.
Essa cólera era proporcional à minha decepção. Tendo os olhos abertos sobre a Sociedade, eu havia reconhecido como evidente que a mutação em curso exigia, na ordem intelectual, uma tomada de consciência e cálculos de futuro, e, na ordem prática, uma ação firme, aqui corretiva, ali incitadora, em geral orientadora. Era preciso, então, um Poder ativo,
e esse desejo se fortalecia diante do escândalo do desemprego por inatividade dos governos!
Mas eis que o Poder assumiu uma face terrível, fazendo o mal com todas as forças a ele confiadas para o bem! Como eu não teria o espírito perturbado por tal espetáculo?
Pareceu,me que o princípio da catástrofe se achava numa confiança social que, por um lado, havia progressivamente alimentado a constituição de um rico arsenal de meios materiais e morais e, por outro lado, deixava livre a entrada e, mais livre ainda, o emprego desses meios! Aí está o que dirigiu minha atenção neste livro a todos os que tiveram a preocupação de limitar o poder, embora nem sempre por sabedoria social, e sim, com frequência, por interesse.
Mas, enfim, o problema colocava-se claramente depois de tão funesta experiência. Problema raramente discutido - e incomparavelmente menos depois da aventura napoleônica.
Será porque uma infelicidade tão extraordinária devia, por essa razão, permanecer única? Aceitemos essa hipótese. Aliás, alegremo-nos com os grandes progressos feitos depois da guerra nos serviços sociais. Mas nem por isso negligenciemos o inquietante contraste entre o formidável crescimento que se produz nos meios do Poder e a frouxidão no controle de seu emprego, até mesmo na principal potência democrática.
Concentração dos poderes, monarquização do comando, segredo das grandes decisões, não são fatos que nos obrigam a pensar? A integração não é menor no domínio econômico. É a época das grandes torres e não da praça pública.
Por isso este livro, cujos graves defeitos reconheço, permanece talvez oportuno. Quanto eu gostaria que ele não o fosse!

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Este é um livro de guerra sob todos os aspectos.
Foi concebido na França ocupada e sua redação foi iniciada no refúgio do mosteiro de La Pierre-Qui-Vire, sendo que o caderno que o continha formava nossa única bagagem quando atravessamos a pé a fronteira suíça em setembro de 1943. A generosa hospitalidade helvética nos permitiu o prosseguimento do trabalho, publicado em Genebra em março de 1945, aos cuidados de Constant Bourquin.
Mas é um livro de guerra em um sentido bem mais substancial, tendo surgido de uma meditação sobre a marcha histórica rumo à guerra total.
Eu havia esboçado esse tema num primeiro escrito, “Da concorrência política”, levado da França por Robert de Traz, que o publicou em janeiro de 1943 na sua Revue Suisse Contemporaine. A presente obra desenvolveu-se em torno desse breve enunciado (conservado como capítulo VIII do livro).
É ali que o leitor encontrará o princípio da cólera que anima este trabalho, que fez seu sucesso e explica alguns de seus excessos.
Essa cólera era proporcional à minha decepção. Tendo os olhos abertos sobre a Sociedade, eu havia reconhecido como evidente que a mutação em curso exigia, na ordem intelectual, uma tomada de consciência e cálculos de futuro, e, na ordem prática, uma ação firme, aqui corretiva, ali incitadora, em geral orientadora. Era preciso, então, um Poder ativo,
e esse desejo se fortalecia diante do escândalo do desemprego por inatividade dos governos!
Mas eis que o Poder assumiu uma face terrível, fazendo o mal com todas as forças a ele confiadas para o bem! Como eu não teria o espírito perturbado por tal espetáculo?
Pareceu,me que o princípio da catástrofe se achava numa confiança social que, por um lado, havia progressivamente alimentado a constituição de um rico arsenal de meios materiais e morais e, por outro lado, deixava livre a entrada e, mais livre ainda, o emprego desses meios! Aí está o que dirigiu minha atenção neste livro a todos os que tiveram a preocupação de limitar o poder, embora nem sempre por sabedoria social, e sim, com frequência, por interesse.
Mas, enfim, o problema colocava-se claramente depois de tão funesta experiência. Problema raramente discutido – e incomparavelmente menos depois da aventura napoleônica.
Será porque uma infelicidade tão extraordinária devia, por essa razão, permanecer única? Aceitemos essa hipótese. Aliás, alegremo-nos com os grandes progressos feitos depois da guerra nos serviços sociais. Mas nem por isso negligenciemos o inquietante contraste entre o formidável crescimento que se produz nos meios do Poder e a frouxidão no controle de seu emprego, até mesmo na principal potência democrática.
Concentração dos poderes, monarquização do comando, segredo das grandes decisões, não são fatos que nos obrigam a pensar? A integração não é menor no domínio econômico. É a época das grandes torres e não da praça pública.
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