Em 1942, quando apareceu o primeiro livro de João Cabral, o movimento surrealista, já em período de sedimentação, ainda subsistia na ditadura da fantasia, que marcou a criação poética na fase de após guerra. O intelectualismo de Paul Valéry, oposto a essa ditadura, e a que se liga a obra de Jorge Guillén, reunida num único livro, Cântico, cuja versão definitiva data de 1950, deixara de ser uma tendência à parte, para tornar-se, graças à análise teórica do fenômeno poético, nos ensaios do criador de Le Cimetiire Marin, ainda vivo no início dessa fase, o ingrediente eficaz da reflexão, absorvido, como um fermento crítico, à própria condição da poesia contemporânea. Os poetas surgidos entre nós às vésperas do término da Segunda Guerra Mundial, e que representam a chamada geração de 45, situam-se na encruzilhada dessas duas linhas de força.
Além de Valéry e Jorge Guillén, de Garcia Lorca e Pablo Neruda, alguns poetas de língua inglesa, a principiar por T. S. Eliot, influenciaram essa geração, que sofreu ascendência de Rainer-Maria Rilke e foi sensibilizada pelo lirismo de Fernando Pessoa. A ascendência de Rilke manifestou-se sobretudo na disposição de ânimo, favorável ao sentimento do invisível e da transcendência, que impregnou autores dessa fase, muitos deles fazendo das Cartas a um Jovem Poeta o seu breviário poético espiritual. Tal como a de Rilke, a obra de Eliot difundiu-se mais largamente entre nós finda a guerra, na mesma ocasião em que o mercado intelectual europeu restabelecido exportou para o Brasil os ensaios e novelas de Sartre e de Camus, os romances e parábolas de Kafka e os tratados ético-religiosos de Kierkegaard.
Era toda uma constelação existencial, a que se ajustava a ideia de poesia pura na versão extremada que lhe dera, ainda em 1920, Henri Brémond. Essa ideia voltava agora, sob o envólucro do neo-escolasticismo de Maritain, então grandemente prestigiado, em consequência do sucesso de O Humanismo Integral.
Foi Fernando Pessoa que revelou aos poetas brasileiros dessa fase, a partir de 1942, quando teve início a publicação de sua obra volumosa e póstuma, não só o lirismo moderno na literatura portuguesa, como também uma metodologia da criação literária, que substitui o princípio da sinceridade biográfica pelo princípio da sinceridade artística.
Poetas Modernos Do Brasil Vol. I: João Cabral De Melo Neto
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