Somos todos de 51, o que de cara já é uma boa ideia. Nos tornamos sessentões em 2011.
Esta antologia nasceu da ideia de comemorarmos o fato de termos chegado tão longe e tão bem.
Sessenta anos era idade do vô, da vó, tão velhinhos, coitadinhos, tomando sol na varanda, encolhidinhos. Muito diferente de nós, cheios de vida, compromissos e ainda com o coração fervilhando de esperança, embora atormentado por muitas das angústias dos tempos juvenis (o tempo nos ensinou a conviver pacificamente com elas).
Cadê o sossego, a calma e a sabedoria prometidas para a malfadada terceira idade? Cadê o tricô para os netos, o chá da tarde, os pés na pantufa? Da minha parte, a única diferença foi a meia entrada e o ônibus de graça, o que não chega a ser propriamente uma ventura. No mais, ter feito sessenta anos não mudou grande coisa. Na verdade, o redondo da data é uma brincadeira. Todos sabemos que as mudanças acontecem silenciosas na soma dos dias ao longo de uma vida inteira.
Chegamos ao mundo seis anos depois do término da segunda e última guerra mundial, o que não quer dizer que não tenhamos visto muitas outras depois disso. Em 1951, a Coreia era a guerra da vez.
No Brasil, Getúlio Vargas voltava ao poder pelo voto popular. Juscelino Kubitscheck assumia o governo de Minas Gerais. O jornal Última Hora começava a circular no Rio de Janeiro. A via Dutra foi inaugurada.
Dois casamentos famosos naquele ano: o de Frank Sinatra com Ava Gardner e o do xá Reza Pahlevi com a princesa Soraya. O Oscar foi apresentado por Marilyn Monroe e A Malvada foi o grande vencedor da noite.
Na TV americana estreava o seriado I Love Lucy, que se tornou símbolo da dona de casa que esperavam que fôssemos: que dá conta das tarefas domésticas, apesar de toda atrapalhação.
Numa historicidade metafórica e nada rigorosa podemos dizer que somos a geração que protagonizou a passagem da antiguidade pra idade contemporânea.
No raiar da segunda metade do século XX, o mundo era muito menor e mais provinciano. O Brasil era um país caipira, subdesenvolvido, atrasado, de pés no chão. Fomos as últimas crianças a passar a infância sem televisão.
É incontrolável o orgulho ao vermos como o mundo mudou depois da nossa chegada. No final dos anos 60, os ares já eram outros.
Fosse em Paris, proferindo palavras de ordem que proibiam proibir, ou na Praça da Sé, pisoteados pelos cascos da ditadura, éramos nós os rebeldes cabeludos que descíamos a Rua Augusta a 120 por hora e convulsionávamos o mundo com nossa psicodélica revolução cultural em meio à explosão dos meios de comunicação, à pílula anticoncepcional e outras liberdades.
60tão: A Turma De 51
- Biografia, História, Literatura Brasileira
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