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Diferente do que pode parecer à primeira vista, esta não é uma discussão essencialmente técnica. Pelo contrário, cada vez mais se faz necessário um intenso debate por vários setores da sociedade sobre as questões ali embutidas: a construção de matérias-primas e produtos, os impactos sobre a saúde e o meio ambiente, a legislação (ou a falta dela) para regular essas novas tecnologias, etc.
A falta de regulação – ou em alguns casos, como no dos transgênicos, baseada em frágeis marcos regulatórios – por si só já representa sérios riscos à sociedade e ao planeta como um todo.
Nós estamos vivendo um momento único na história do desenvolvimento científico, em que o homem alcançou a capacidade de manipular o conhecimento e a matéria de forma a criar e modificar a vida, como nunca antes havia sido possível. E tudo isso tem sido feito sem a devida e necessária análise dos riscos envolvidos e também da reflexão sobre a própria importância social dessas novas tecnologias.
Convergência Tecnológica Num Mundo Desigual busca contribuir com este debate, abordando em seus artigos temas bastante novos como geopirataria e nanobiotecnologia, entre outros, sob diferentes perspectivas e aspectos.
Convergência, em ciência e tecnologia, pode referir-se ao surgimento de conceitos de diferentes sistemas de conhecimento, à unificação de áreas de investigação previamente separadas, ao compartilhamento de práticas e dispositivos, ou a uma meta comum abordada de diferentes perspectivas.
Muito embora esta ideia não seja nova no domínio científico, tendo surgido inicialmente na década de oitenta no âmbito do desenvolvimento da informática e das ciências computacionais, a expressão “convergência tecnológica” foi cunhada primeiramente em 2001, durante o workshop patrocinado pela National Science Foundation Americana, cujos resultados foram compilados em um relatório pelo engenheiro Michail Roco e o sociólogo das religiões, William Sims Bainbridge.
O título de tal relatório é intrigante: “Converging Technologies for improving human performances: Nanotechnology, Biotechnology, Information Tecnology and Cognitive Science” (também denominado Relatório NBIC, uma vez que a convergência aqui é entendida como convergência de quatro áreas da tecnologia: nano, bio, info e cogno).
A amplitude e diversidade dos objetivos atendidos por esta convergência tecnológica, que abrange desde a melhoria da saúde até a comunicação entre as pessoas, da melhoria da segurança nacional até a reorganização mais eficiente de todas as atividades humanas, facilmente cria no leitor do relatório a impressão de que a convergência de tecnologias seja a chave para um futuro diferente e melhor.
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