O Arquipélago Da Insônia

O Arquipélago da Insônia seria, segundo Lobo Antunes,
o primeiro livro de uma “trilogia que se passa fora de Lisboa”.
A ele se seguiriam um sobre a região do Ribatejo (Que cavalos
são aqueles que fazem sombra no mar?) e outro sobre a Beira Alta.

Uma trilogia da história de Portugal, de uma decadência das classes, mas também da decadência da memória e a necessidade de sua invenção, da decadência do humano.
Se é possível descrever os fragmentos de uma história é aquela da desagregação e da falência da família; da ruína e morte de uma casa. Contam-se várias histórias: a do autista, do seu nascimento, da sua infância e das suas relações com a família e com os outros; a do pai e da mãe e do irmão; a do avô e da avó; a do feitor e do ajudante de feitor; a de Maria Adelaide que ficamos sem saber se está morta ou viva; da internação do menino, das visitas, do que resta disso. Da extraordinária prima Hortelinda que, como viremos a saber, é a morte. E no final não se conta uma história, apenas a sua insônia.
Misturado e confundido o espaço e os seus habitantes, temos a miséria (da própria narrativa? a sua escassez?), o abandono e o vazio de tudo e de todos, inclusive de Cristo e de Deus, que mesmo sendo chamado, não responde: “a prima Hortelinda indicando-o com o lábio, obrigada a escolher dada a ausência de Deus”.
Como compor uma memória com os vestígios das vozes que habitam a casa? Como se desfazer de uma memória alucinada? Visto que “um livro é um delírio estruturado”, atordoante, insistente, que se organiza em torno de vozes cíclicas, formando grandes círculos concêntricos . Na terceira e última parte do livro uma voz, entre parênteses – que não sabemos se é a do autista ou do seu irmão; ou talvez dessa espécie de duplo que se forma entre as duas imagens; ou a voz do próprio autor –, nos diz: “estou a tentar escrever a minha parte depressa”. Para em seguida concluir: “escrever a minha parte, livrar-me dela, deixar-vos”.
Livrar-se dos fantasmas que habitam a herdade, livrar-se da casa, livrar-se da voz? O livro parece se constituir nesse intervalo entre uma memória que precisa ser reconstituída, visto que o que resta são apenas vestígios, e de uma memória da qual é preciso livrar-se. Memória essa formada pelos ruídos verbais que insistem em apresentar-se.
A casa é uma presença importante na narrativa e não apenas o lugar onde esta se desenrola. Casa arquipélago, em que cada morador se apresenta como uma ilha insone, torturados pela vigília dos fantasmas que rondam seu espaço de silêncio.

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O Arquipélago da Insônia seria, segundo Lobo Antunes,
o primeiro livro de uma “trilogia que se passa fora de Lisboa”.
A ele se seguiriam um sobre a região do Ribatejo (Que cavalos
são aqueles que fazem sombra no mar?) e outro sobre a Beira Alta. Uma trilogia da história de Portugal, de uma decadência das classes, mas também da decadência da memória e a necessidade de sua invenção, da decadência do humano.
Se é possível descrever os fragmentos de uma história é aquela da desagregação e da falência da família; da ruína e morte de uma casa. Contam-se várias histórias: a do autista, do seu nascimento, da sua infância e das suas relações com a família e com os outros; a do pai e da mãe e do irmão; a do avô e da avó; a do feitor e do ajudante de feitor; a de Maria Adelaide que ficamos sem saber se está morta ou viva; da internação do menino, das visitas, do que resta disso. Da extraordinária prima Hortelinda que, como viremos a saber, é a morte. E no final não se conta uma história, apenas a sua insônia.
Misturado e confundido o espaço e os seus habitantes, temos a miséria (da própria narrativa? a sua escassez?), o abandono e o vazio de tudo e de todos, inclusive de Cristo e de Deus, que mesmo sendo chamado, não responde: “a prima Hortelinda indicando-o com o lábio, obrigada a escolher dada a ausência de Deus”.
Como compor uma memória com os vestígios das vozes que habitam a casa? Como se desfazer de uma memória alucinada? Visto que “um livro é um delírio estruturado”, atordoante, insistente, que se organiza em torno de vozes cíclicas, formando grandes círculos concêntricos . Na terceira e última parte do livro uma voz, entre parênteses – que não sabemos se é a do autista ou do seu irmão; ou talvez dessa espécie de duplo que se forma entre as duas imagens; ou a voz do próprio autor –, nos diz: “estou a tentar escrever a minha parte depressa”. Para em seguida concluir: “escrever a minha parte, livrar-me dela, deixar-vos”.
Livrar-se dos fantasmas que habitam a herdade, livrar-se da casa, livrar-se da voz? O livro parece se constituir nesse intervalo entre uma memória que precisa ser reconstituída, visto que o que resta são apenas vestígios, e de uma memória da qual é preciso livrar-se. Memória essa formada pelos ruídos verbais que insistem em apresentar-se.
A casa é uma presença importante na narrativa e não apenas o lugar onde esta se desenrola. Casa arquipélago, em que cada morador se apresenta como uma ilha insone, torturados pela vigília dos fantasmas que rondam seu espaço de silêncio.

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