A edição completa dos Cadernos do cárcere começou a ser publicada pela primeira vez no Brasil em 1999, organizada por Carlos Nelson Coutinho, incansável e persistente divulgador da obra de Gramsci, com a colaboração de Marco Aurélio Nogueira, professor livre-docente da Unesp e Luiz Sérgio Henriques, editor da revista eletrônica Gramsci e o Brasil. Considerado hoje o maior especialista em Gramsci no Brasil, Coutinho consolida, nesta edição, a vitalidade de um pensamento que sobreviveu a diferentes conjunturas e continua sendo referência para os segmentos de esquerda do mundo todo, empenhados na construção de um outro projeto civilizatório.
A nova tradução brasileira dos Cadernos pode ser considerada um projeto inédito, uma vez que articula tanto elementos da edição temática togliattiana quanto da edição crítica de Gerratana. Esses dois critérios de organização dos escritos carcerários de Gramsci, que tornaram possível a divulgação de seu pensamento em diversos continentes, fornecendo caminhos fecundos no repensar do debate marxista e das estratégias políticas da esquerda, vêm sendo acrescidos de novos elementos por intérpretes do pensamento gramsciano.
O primeiro volume, publicado em dezembro de 1999, contém os cadernos 10 e 11. O caderno 10, dedicado à Filosofia de Benedetto Croce, traz à cena o diálogo de Gramsci com um dos maiores representantes do liberalismo italiano. Estrutura, superestrutura, ideologia, filosofia, hegemonia, intelectuais, história e política, objetividade e subjetividade, individual e coletivo, necessidade e liberdade, são categorias presentes nesta interlocução com o napolitano Croce, reafirmando o esforço de Gramsci em recuperar a teoria social de Marx e traduzi-la como filosofia da práxis. No caderno 11, o autor desenvolve uma longa polêmica com Bukharin, a partir da obra intitulada A teoria do materialismo histórico manual popular de sociologia marxista, chamada por Gramsci de “Ensaio popular de sociologia”. Neste debate, desencadeia uma pesada crítica ao economicismo e ao marxismo vulgar decorrentes da Segunda Internacional, bem como à sociologia, nascida no berço do positivismo. Gramsci defende o marxismo como uma filosofia da história, um pensamento aberto, não determinado a priori. “A filosofia da práxis escreve ele é o historicismo absoluto, a mundialização e terrenalidade absoluta do pensamento, um humanismo absoluto da história.”5 Vários cadernos miscelâneos complementam este volume, trazendo temas fundamentais que revelam ser a história “um contínuo e progressivo fazer-se.
Cadernos Do Cárcere Vol. I
- Ciências Sociais
- 34 Visualizações
- Nenhum Comentário
Link Quebrado?
Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.