Vietnã Do Norte

Como conseguiram os vietnamitas derrotar completamente uma grande potência da Europa Ocidental, a França, em 1954, e como conseguiram levar os americanos à mesa de conferência, em Paris, em 1968?

Foi o que procurei descobrir no Vietnã, como repórter profissional, falando a todo o mundo, perguntando diretamente aos dirigentes de Hanói, a heróis de guerra, questionando indiretamente gente do povo, camponeses em arrozais e roças de mandioca, pilotos americanos no cárcere.

Ouvi o troar do incessante bombardeio americano perto do Paralelo 17, presenciei cenas severas, doces, divertidas. Numa aldeia a Oeste de Hanói, em plena floresta, houve um momento de horror que saltou em cima de mim como um tigre.

No mundo inteiro, para explicar o fenômeno vietnamita, fala-se geralmente em “heroísmo”. E daí? É fácil ser herói um dia, talvez até um ano, digamos. Mas como se estrutura de forma durável o heroísmo?

Na província de Thanh Hoá, a 150 quilômetros ao Sul de Hanói, falei de heroísmo diretamente com uma dona do assunto, a jovem Nguyen Thi Hang, de 24 anos, veterana em derrubar avião e prender piloto.

Perguntei-lhe se não tivera medo no seu primeiro combate quando tinha 20 anos de idade. Thi Hang se lembrava bem da data 3 de abril de 1965. E da hora 2 da tarde. E dos velocíssimos B-52 vindos de todas as direções convergindo sobre a ponte de Ham Rong (Mandíbula do Dragão) no Song Ma (Rio do Cavalo).

Lembrava-se da tensão de esquecer a presença das outras milicianas ao seu lado. Mas o que é que tinha sentido? Me pediu um momento para pensar. Um momento. Não se lembrava. Ouve o ruído ensurdecedor dos jatos passando por cima das baterias das bombas.

Nguyen Thi Hang se lembrava de que, passada a primeira vaga do ataque, a ponte continuava intacta mas a aldeia mais próxima, sua aldeia, ardia em chamas. Então pensou nas crianças e nos velhos da aldeia, no arroz da sua cooperativa. Disto se lembrava.

E, a seguir, da determinação, do ódio com que esperou que chegasse à sua alça de mira o próximo avião americano.

Nascido em 1917, em Niterói (RJ), e falecido no Rio de Janeiro em 1997, Antonio Callado foi um militante do jornalismo e da literatura. Sua oposição ao regime militar custou-lhe a prisão, mas não se intimidou.

Além de seu exemplo e ação, sua obra revela o compromisso político para com os excluídos da cidadania, muitas vezes contra seus próprios colegas de profissão. Principalmente naquela obra considerada por muitos a mais engajada da época, Quarup.

Consciente de que um escritor não muda a realidade com seus escritos, Antonio Callado tinha clareza sobre a importância do papel do escritor que, de forma coerente, poderia ajudar a melhor compreendê-la, condição indispensável para sua transformação.

Exemplo disso é seu trabalho Vietnã Do Norte: Advertência Aos Agressores, resultado de cobertura que fez naquele país durante a guerra, trazendo para o Brasil preciosas informações da agressão imperialista ao povo vietnamita.

http://livrandante.com.br/contribuicao/caneca-fusquinha-branca/

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Como conseguiram os vietnamitas derrotar completamente uma grande potência da Europa Ocidental, a França, em 1954, e como conseguiram levar os americanos à mesa de conferência, em Paris, em 1968?

Foi o que procurei descobrir no Vietnã, como repórter profissional, falando a todo o mundo, perguntando diretamente aos dirigentes de Hanói, a heróis de guerra, questionando indiretamente gente do povo, camponeses em arrozais e roças de mandioca, pilotos americanos no cárcere.

Ouvi o troar do incessante bombardeio americano perto do Paralelo 17, presenciei cenas severas, doces, divertidas. Numa aldeia a Oeste de Hanói, em plena floresta, houve um momento de horror que saltou em cima de mim como um tigre.

No mundo inteiro, para explicar o fenômeno vietnamita, fala-se geralmente em “heroísmo”. E daí? É fácil ser herói um dia, talvez até um ano, digamos. Mas como se estrutura de forma durável o heroísmo?

Na província de Thanh Hoá, a 150 quilômetros ao Sul de Hanói, falei de heroísmo diretamente com uma dona do assunto, a jovem Nguyen Thi Hang, de 24 anos, veterana em derrubar avião e prender piloto.

Perguntei-lhe se não tivera medo no seu primeiro combate quando tinha 20 anos de idade. Thi Hang se lembrava bem da data 3 de abril de 1965. E da hora 2 da tarde. E dos velocíssimos B-52 vindos de todas as direções convergindo sobre a ponte de Ham Rong (Mandíbula do Dragão) no Song Ma (Rio do Cavalo).

Lembrava-se da tensão de esquecer a presença das outras milicianas ao seu lado. Mas o que é que tinha sentido? Me pediu um momento para pensar. Um momento. Não se lembrava. Ouve o ruído ensurdecedor dos jatos passando por cima das baterias das bombas.

Nguyen Thi Hang se lembrava de que, passada a primeira vaga do ataque, a ponte continuava intacta mas a aldeia mais próxima, sua aldeia, ardia em chamas. Então pensou nas crianças e nos velhos da aldeia, no arroz da sua cooperativa. Disto se lembrava.

E, a seguir, da determinação, do ódio com que esperou que chegasse à sua alça de mira o próximo avião americano.

Nascido em 1917, em Niterói (RJ), e falecido no Rio de Janeiro em 1997, Antonio Callado foi um militante do jornalismo e da literatura. Sua oposição ao regime militar custou-lhe a prisão, mas não se intimidou.

Além de seu exemplo e ação, sua obra revela o compromisso político para com os excluídos da cidadania, muitas vezes contra seus próprios colegas de profissão. Principalmente naquela obra considerada por muitos a mais engajada da época, Quarup.

Consciente de que um escritor não muda a realidade com seus escritos, Antonio Callado tinha clareza sobre a importância do papel do escritor que, de forma coerente, poderia ajudar a melhor compreendê-la, condição indispensável para sua transformação.

Exemplo disso é seu trabalho Vietnã Do Norte: Advertência Aos Agressores, resultado de cobertura que fez naquele país durante a guerra, trazendo para o Brasil preciosas informações da agressão imperialista ao povo vietnamita.

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