
O livro nasceu da necessidade de professores/as da Educação Básica das aldeias potiguaras e dos sítios para pensar a história do Vale do Mamanguape, juntando a Educação do Campo e a Educação Indígena para falar desta territorialidade, sua cultura, sua vida. Deste desejo, emerge a produção de História, Cultura E Sustentabilidade Do Vale Do Mamanguape, relevante trabalho para ser estudado, lido e refletido nas escolas básicas dos povos daquela região.
A intencionalidade, o itinerário de construção e o material elaborado retratam o que nosso saudoso Paulo Freire denomina de “beleza e decência na educação”, pois a beleza é uma construção compartilhada eticamente por todos/as, precisando ser conquistada a cada momento, a cada decisão, por meio de experiências, atitudes capazes de criar e recriar o mundo. Nesse processo de escritura coletiva, estudantes e professores/as indígenas e campesinos passaram por grande aprendizado.
A territorialidade do Vale do Mamanguape se distribui ao longo dos rios Camaratuba, Mamanguape, Sinimbu, Jacaré, Grupiúna, Silva e Vermelho, o que explicita a importância das águas na vida de seus povos, na construção de suas culturas. O próprio povo potiguara, ao se situar próximo aos rios, riachos ou córregos, possibilita o desenvolvimento de uma economia doméstica baseada na lavoura, na pesca, na coleta de crustáceos e moluscos, na criação de animais em pequena escala e no extrativismo vegetal.
As concentrações urbanas nos espaços da Baía da Traição, do Rio Tinto e da Marcação são definidas pelas contradições e pelos conflitos dos diferentes processos de invasão do seu território por usineiros e latifundiários ao longo da história até os dias atuais, e mais recentemente pela especulação imobiliária.
Tal lugar foi onde se situou o povo potiguara, para realizar este processo de reflexão e escrita coletiva, de lugares de história e de memória, com disputas pelas lembranças e pelos esquecimentos impostos nas interações com os colonizadores (portugueses, franceses, holandeses) e com os grupos empresariais nos tempos atuais (Cia de Tecidos Rio Tinto, Usina Mirirí e Usina Japungu, Monte Alegre e D’Pádua).
Portanto, a luta pela defesa da Terra – como mãe e provedora da vida e da subsistência de indígenas e não indígenas – marca toda esta narrativa.
