Em 2003, Annia Ciezadlo resolve passar a lua de mel em Bagdá. O destino nada óbvio para uma norte-americana se justifica pela decisão de seu marido Mohamad, que era jornalista nos Estados Unidos, de cobrir a invasão do Iraque e voltar ao Líbano, sua terra natal. Neste livro a autora fala sobre os anos na Bagdá ocupada pelas forças da Coalizão e na Beirute marcada pelas divisões sectárias. Fala, também, sobre o dia a dia das pessoas, sua relação com a família de Mohamad, as diferenças culturais entre Oriente e Ocidente e sobre a possibilidade de resolver os conflitos com uma mesa cuidadosamente preparada.
Em toda zona de guerra, há outra batalha, um conflito em sombra que acontece num furor silencioso nos bastidores. Não se vê muito desse conflito na televisão ou nos filmes. Essa guerra não aparente consiste na destruição lenta, mas severa, da vida civil do dia a dia: as crianças não podem ir à escola. A mulher grávida não pode dar à luz no hospital. O agricultor não pode arar seus campos. O músico não pode tocar seu violão. O professor não pode dar aula. Para os civis, a guerra se torna um acúmulo implacável de não podes.
Mas independentemente de tudo o mais que você não possa fazer, ainda assim tem que comer. Durante a guerra, a vida das pessoas começa a girar em torno da comida: primeiro para permanecer vivo, mas também para permanecer humano.
A comida restaura uma sensação de familiaridade. Permite que alcancemos o outro, porque cozinhar e comer são naturalmente atividades grupais. A comida pode atravessar barreiras sociais, perpassando linhas sectárias e de classe (apesar de poder, também, é claro, reforçá-las). Fazer e compartilhar o alimento são essenciais para a manutenção dos ritmos do dia a dia.
Fui ao Oriente Médio como a maioria dos americanos, relativamente ingênua no que dizia respeito tanto à cultura árabe quanto à política externa americana. Nos seis anos que se seguiram, vi muita guerra, mas também vi a vida normal cotidiana. Participei de jantares cerimoniais com xeques tribais em Bagdá; ajoelhei-me e comi kubbet hamudh no chão com mulheres iraquianas de Falluja; bebi áraque caseiro com cristãos milicianos nas montanhas do Líbano; comi peru cozido com um chefe peshmerga bem-educado no Curdistão; e aprendi a fazer yakhne kusa e muitos outros pratos com minha sogra libanesa, Umm Hassane, que não fala uma palavra em inglês. Outras pessoas viram mais, fizeram mais, arriscaram mais. Mas eu comi mais.
Dias De Mel: Uma História De Amor, Guerra E Pratos Deliciosos
- Comunicação, Literatura Estrangeira
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