O terceiro volume de Cinema E Outras Artes: Diálogos E Inquietudes Artísticas continua o complexo debate sobre a relação recíproca, tensa e intensa, entre o cinema e as outras artes. Os três capítulos, intitulados Literatura e Poesia, Pintura e Processos Criativos, exploram as vertentes poéticas, históricas, sociológicas e culturais que norteiam os processos de transposição fílmica; pesquisam os diálogos experimentais e palimpsésticos entre o cinema e a pintura e projetam géneros “impossíveis”, novos olhares pós-internet, hipotextos de cultura audiovisual, dissonâncias, processos de receção artística e propostas pedagógicas. Espelham, através das suas reflexões e pesquisas, uma constante inquietude investigativa.
Eduardo Paz Barroso, no texto de abertura, propõe uma análise visceral do azul – “a mais sentimental e a mais cruel das cores” – como metáfora do sonho e da sétima arte, desdobrada nos espaços entre o cinema e a pintura em Blue Velvet (1986), de David Lynch.
O primeiro capítulo – Literatura e Poesia – explora os percursos analíticos da transposição fílmica e o constante diálogo cultural e semiótico entre a palavra e a imagem. António Júlio Rebelo evoca, numa reflexão sobre os (des)encontros entre a literatura e o cinema, o diálogo interrompido entre Albert Camus e Ingmar Bergman em A Queda e A Peste, e A Vergonha (1968) respetivamente. Sofia Mota Freitas apresenta a recriação interartística da narrativa fílmica feita por João Miguel Fernandes Jorge em Pickpocket (1959) a propósito da obra cinematográfica de Robert Bresson, numa análise do olhar enquanto processo criativo. Gaspare Trapani observa forças e valores da luta antifascista, protagonizada pelo intelectual neorrealista Carlo Levi, bem como os percursos poéticos e ideológicos expressos no filme Cristo parou em Eboli (1979), de Francesco Rosi.
O segundo capítulo – Pintura – percorre impulsos, refutações e reflexões em torno do diálogo entre criadores. Carlos Alberto Trindade e Maria Elisa Trindade apresentam uma pesquisa completa e profunda acerca de um conjunto de cineastas-pintores e pintores-cineastas. Jorge Vaz Gomes analisa a liberdade de discurso textual e imagético do documentário/filme-ensaio Santiago (2007), de João Moreira Salles, e enuncia a inteligibilidade contida nas imagens ausentes na sua dialética com o texto fílmico.
No terceiro e último capítulo, estão reunidos estudos sobre o processo criativo nas suas mais diversas vertentes. Ana Luísa Azevedo estabelece pontes estéticas e reflexões pertinentes entre os vídeo-diários de George Kuchar e as manifestações autorreflexivas dos videobloggers. Luís Nogueira propõe uma exaustiva e criativa análise epistemológica de um género por ele considerado “impossível” e “indispensável”, que denomina cinema enciclopédico.