Desembarcando O Alzheimer

Uma pessoa com Alzheimer não pede nada além de uma mão para segurar, um coração que cuide dela e uma mente para pensar por ela quando não for mais capaz. Alguém para protegê-la à medida que entra em uma jornada não planejada, desconhecida e perigosa.


Eles eram 150 idosos, entre homens e mulheres. Mas apenas dois apresentavam comportamento diferente dos demais; eles me chamavam atenção. Eu via que não se tratava simplesmente do processo de envelhecimento. Enquanto os outros idosos participavam das atividades oferecidas pela casa geriátrica, Maria, uma das duas pessoas a quem me referi, sentou-se perto de mim e começou a chorar. Perguntei-lhe por que chorava. Ela respondeu que tinha de dar almoço aos filhos, mas não sabia onde eles estavam. Maria tinha uma memória bem nítida sobre a responsabilidade do passado de alimentar as crianças, porém sua memória agora está fora de contexto. O outro paciente era um idoso que se chamava João. Ele saía seguidamente a caminhar fora da casa geriátrica e ficava perambulando pela rua, o que preocupava a administração, pois outros idosos também saíam, mas logo voltavam após atingirem seus objetivos lá fora. Um dia, abordei João quando saía para a rua. Naquele momento ele usava uma calça jeans, camisa xadrez e uma lanterna no bolso. Quando lhe perguntei aonde estava indo, ele me respondeu que era guarda noturno e tinha obrigação de cuidar de toda a redondeza. Da mesma forma que Maria, João reportou uma acurada memória de quando era guarda noturno, porém agora estava fora de contexto. Maria e João sofriam de demência de Alzheimer, uma doença crônico-degenerativa progressiva, que invade o cérebro e lentamente destrói a memória das pessoas. Os demais moradores da casa geriátrica eram idosos com características do processo de envelhecimento, mas não com sintomas de demência. Hoje, passados muitos anos de árdua busca por conhecimento e muita vivência com estes pacientes, eu acredito que:
– Mais do que qualquer outra doença, a demência de Alzheimer precisa de um cuidado muito especial com treinamento especializado;
– Trabalhar com pessoas com Alzheimer pode ser imensamente gratificante, mas pode também ser um grande desafio emocional, físico e mental;
– Cada pessoa com Alzheimer tem o direito a um cuidado individualizado, o direito de se expressar e o direito a ter dignidade.

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Eles eram 150 idosos, entre homens e mulheres. Mas apenas dois apresentavam comportamento diferente dos demais; eles me chamavam atenção. Eu via que não se tratava simplesmente do processo de envelhecimento. Enquanto os outros idosos participavam das atividades oferecidas pela casa geriátrica, Maria, uma das duas pessoas a quem me referi, sentou-se perto de mim e começou a chorar. Perguntei-lhe por que chorava. Ela respondeu que tinha de dar almoço aos filhos, mas não sabia onde eles estavam. Maria tinha uma memória bem nítida sobre a responsabilidade do passado de alimentar as crianças, porém sua memória agora está fora de contexto. O outro paciente era um idoso que se chamava João. Ele saía seguidamente a caminhar fora da casa geriátrica e ficava perambulando pela rua, o que preocupava a administração, pois outros idosos também saíam, mas logo voltavam após atingirem seus objetivos lá fora. Um dia, abordei João quando saía para a rua. Naquele momento ele usava uma calça jeans, camisa xadrez e uma lanterna no bolso. Quando lhe perguntei aonde estava indo, ele me respondeu que era guarda noturno e tinha obrigação de cuidar de toda a redondeza. Da mesma forma que Maria, João reportou uma acurada memória de quando era guarda noturno, porém agora estava fora de contexto. Maria e João sofriam de demência de Alzheimer, uma doença crônico-degenerativa progressiva, que invade o cérebro e lentamente destrói a memória das pessoas. Os demais moradores da casa geriátrica eram idosos com características do processo de envelhecimento, mas não com sintomas de demência. Hoje, passados muitos anos de árdua busca por conhecimento e muita vivência com estes pacientes, eu acredito que:
– Mais do que qualquer outra doença, a demência de Alzheimer precisa de um cuidado muito especial com treinamento especializado;
– Trabalhar com pessoas com Alzheimer pode ser imensamente gratificante, mas pode também ser um grande desafio emocional, físico e mental;
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