No processo de formação da literatura brasileira, o indígena, assim como sua literatura e outros aspectos culturais, foram imensamente explorados pelos escritores brasileiros.
Muitos desses escritores buscavam a realização de uma literatura que fortalecesse a nação brasileira em um contexto de independência e autoafirmação.
Nesse sentido, a figura do índio, assim como suas histórias e tradições, estiveram presentes desde o começo de nossa literatura até os dias de hoje.
Mas, apesar de representações como as acima citadas, só na atualidade se fala em uma literatura indígena no Brasil. Isso porque, mesmo com todas as inovações do Modernismo, que propiciaram uma visão mais ampla de texto e literatura e reconheceram a literatura oral em toda sua força ritualística, ainda hoje a palavra literatura se encontra muito ligada ao texto escrito, impresso.
Desde o final dos anos 1970, vários livros de autoria indígena estão sendo produzidos e publicados no Brasil.
A partir de um levantamento inédito destes livros, e também da experiência junto a alguns povos na produção deles, busca-se compreender, ainda que parcialmente, a história dos povos indígenas em suas relações com a escrita e com a produção de livros, explicitando o contexto de produção e recepção destas obras.
Estes livros também partilham de um trabalho gráfico-textual bastante característico, através do qual é possível perceber como as literaturas indígenas estão se traduzindo para o registro impresso.
Para pensar este processo de tradução, que é a base de todo produto editorial que parte de literaturas orais, o livro indígena é abordado em duas dimensões não dicotômicas: uma, que é o texto, a mensagem e a língua em que é publicado; e outra, que é o livro como objeto físico, seu projeto gráfico: o formato, as cores, os desenhos e outras grafias que compõem a página.
Esta abordagem busca perceber elementos que indicam o tratamento que se tem dado ao texto a fim de se manter a oralidade, a historicidade e a cultura no registro impresso.