Em maio de 2000, semanas antes do anúncio do primeiro esboço do genoma humano, um caderno começou a circular entre alguns cientistas sentados no bar em frente ao Laboratório Cold Spring Harbor, no estado de Nova York. Todos estavam muito entusiasmados com a próxima fase do Projeto Genoma Humano, em que a sequência de DNA seria dividida em suas partes funcionais: os genes. O caderno continha uma aposta em bolão, os palpites do grupo mais bem informado no planeta sobre uma questão intrigante: de quantos genes se constitui o ser humano?
A cientista veterana Lee Rowen, que liderava um grupo trabalhando na decodificação dos cromossomos 14 e 15, bebericava sua cerveja enquanto refletia sobre a questão. Os genes produzem proteínas, os “tijolos” da vida, e a mera complexidade do ser humano tornava provável que o número fosse alto. Maior que o do camundongo, com certeza, que possui 23 mil genes. Provavelmente também maior que o do trigo, que tem 26 mil genes. E, sem dúvida, bem maior que o do verme C. elegans, uma das espécies favoritas dos biólogos de laboratório, com seus 20.500 genes.
Os palpites em média superavam os 55 mil genes e chegavam a 150 mil, mas os conhecimentos de Rowen a levaram a um palpite mais modesto. Ela apostou em 41.440 genes naquele ano e, no seguinte, arriscou que teríamos 25.947 genes. Em 2003, com a divulgação do número real de genes e a conclusão do sequenciamento do genoma humano, Rowen ganhou o bolão. Seu palpite fora o mais baixo dentre todas as 165 apostas, e a contagem de genes era inferior ao que qualquer cientista havia previsto.
Com quase 20 mil genes, o genoma humano nem chega a superar o do verme C. elegans. Tem metade dos genes de um pé de arroz, e até a humilde pulga-d’água ultrapassa esse número, com 31 mil genes. Nenhuma dessas espécies é capaz de falar, criar ou ter pensamentos inteligentes. Você pode pensar, assim como os cientistas que participaram do bolão, que o ser humano deveria ter muito mais genes que gramíneas, vermes e pulgas. Afinal, genes constroem proteínas, e proteínas constroem corpos. Com certeza um corpo tão complexo e sofisticado quanto o humano precisaria de mais proteínas e, portanto, de mais genes do que um verme.
10% Humano: Como Os Micro-Organismos São A Chave Para A Saúde Do Corpo E Da Mente
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