Olho Por Olho: Os Livros Secretos Da Ditadura

A história é conhecida: a guerra entre os promotores e opositores da ditadura militar no Brasil (1964-85) foi longa, suja e, ao final, ainda que um lado tenha perdido bem mais que o outro, a derrota foi servida a todos em porções generosas.

O que durante duas décadas não se soube é que o confronto derradeiro mobilizou menos de 40 combatentes de cada lado, foi silencioso — quase invisível — e durou 28 anos (1979 a 2007), extrapolando assim o próprio período da ditadura. A última batalha dessa guerra foi travada por dois livros.
O primeiro movimento coube aos adversários do regime. Em 1979, em pleno governo de um general forjado no serviço secreto, um grupo de religiosos e advogados deflagrou um projeto tão ambicioso quanto improvável. Eles pretendiam:
1)   Entrar na sala de processos do Superior Tribunal Militar (STM), um prédio em Brasília cercado de seguranças;
2)   Pegar toneladas (literalmente!) de provas das atrocidades cometidas nos porões do regime;
3)   Reunir tudo num livro-denúncia.
Ninguém até hoje sabe exatamente como foi possível, mas o fato é que o plano deu certo.
Depois de seis anos de trabalho no mais absoluto segredo, o projeto resultou no livro Brasil: Nunca Mais. A obra foi publicada em julho de 1985, quando havia apenas quatro meses que a ditadura terminara. Repercutiu com força dentro e fora do Brasil, tornando-se o relato mais importante dos casos de tortura (milhares), morte (cerca de 400) e desaparecimento de presos políticos (135) no regime militar.
Como é fácil imaginar, foi grande o baque nos quartéis. Àquela altura, as Forças Armadas já estavam resignadas por terem sido forçadas a ceder o poder de volta aos civis, mas tinham concebido um script diferente para o início do processo de redemocratização. A ousadia do Brasil: Nunca Mais teria troco.
Ainda naquele ano, a resposta dos militares começou a ser gestada no Forte Apache — o Quartel-General do Exército, em Brasília, um conjunto gigantesco de prédios em forma de régua, gelados no inverno e ardentes no verão. A cúpula da força terrestre não precisou de muito tempo para definir como seria a desforra. Valeria a lei de talião: se era olho por olho e dente por dente, livro se pagaria com livro. Ou melhor: uma obra que desdissesse tudo o que a outra afirmara, uma espécie de avesso do Brasil: Nunca Mais. Não à toa, o projeto do Exército foi batizado com o nome-código Orvil, a palavra livro escrita de trás para frente.

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

Olho Por Olho: Os Livros Secretos Da Ditadura

A história é conhecida: a guerra entre os promotores e opositores da ditadura militar no Brasil (1964-85) foi longa, suja e, ao final, ainda que um lado tenha perdido bem mais que o outro, a derrota foi servida a todos em porções generosas. O que durante duas décadas não se soube é que o confronto derradeiro mobilizou menos de 40 combatentes de cada lado, foi silencioso — quase invisível — e durou 28 anos (1979 a 2007), extrapolando assim o próprio período da ditadura. A última batalha dessa guerra foi travada por dois livros.
O primeiro movimento coube aos adversários do regime. Em 1979, em pleno governo de um general forjado no serviço secreto, um grupo de religiosos e advogados deflagrou um projeto tão ambicioso quanto improvável. Eles pretendiam:
1)   Entrar na sala de processos do Superior Tribunal Militar (STM), um prédio em Brasília cercado de seguranças;
2)   Pegar toneladas (literalmente!) de provas das atrocidades cometidas nos porões do regime;
3)   Reunir tudo num livro-denúncia.
Ninguém até hoje sabe exatamente como foi possível, mas o fato é que o plano deu certo.
Depois de seis anos de trabalho no mais absoluto segredo, o projeto resultou no livro Brasil: Nunca Mais. A obra foi publicada em julho de 1985, quando havia apenas quatro meses que a ditadura terminara. Repercutiu com força dentro e fora do Brasil, tornando-se o relato mais importante dos casos de tortura (milhares), morte (cerca de 400) e desaparecimento de presos políticos (135) no regime militar.
Como é fácil imaginar, foi grande o baque nos quartéis. Àquela altura, as Forças Armadas já estavam resignadas por terem sido forçadas a ceder o poder de volta aos civis, mas tinham concebido um script diferente para o início do processo de redemocratização. A ousadia do Brasil: Nunca Mais teria troco.
Ainda naquele ano, a resposta dos militares começou a ser gestada no Forte Apache — o Quartel-General do Exército, em Brasília, um conjunto gigantesco de prédios em forma de régua, gelados no inverno e ardentes no verão. A cúpula da força terrestre não precisou de muito tempo para definir como seria a desforra. Valeria a lei de talião: se era olho por olho e dente por dente, livro se pagaria com livro. Ou melhor: uma obra que desdissesse tudo o que a outra afirmara, uma espécie de avesso do Brasil: Nunca Mais. Não à toa, o projeto do Exército foi batizado com o nome-código Orvil, a palavra livro escrita de trás para frente.

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog