Nelson Rodrigues – À Sombra Das Chuteiras Imortais: Crônicas De Futebol
Nelson Rodrigues não enxergava direito. De longe, então, era incapaz de distinguir Fulano de Beltrano. No Maracanã, que deixa o torcedor a léguas do campo, não conseguia ver o jogo sozinho. Tinha que ter alguém soprando no ouvido dele os lances que a vista curta não alcançava.
E, no entanto, ninguém jamais retratou um jogo de futebol com a dimensão épica que o leitor vai encontrar neste livro organizado por Ruy Castro com o mesmo rigor e o mesmo encantamento com que se debruçou sobre a vida e a obra desse admirável artista que conheci tão de perto.
À Sombra Das Chuteiras Imortais, a primeira coletânea das crônicas esportivas de Nelson Rodrigues, reúne setenta textos que Nelson publicou na extinta revista Manchete Esportiva e em O Globo entre os anos de 1955 e 1970.
Elas cobrem o período mais rico e fascinante do futebol brasileiro: aquele que vai da derrota do Brasil para o Uruguai, na final da Copa de 50, em pleno Maracanã, à conquista definitiva do tricampeonato no México, em 1970, passando pelas emoções que transformaram a ideia que o brasileiro fazia de si mesmo.
Do brasileiro com “complexo de vira-latas” ao brasileiro orgulhoso de ser brasileiro: essa é a trajetória contada por Nelson Rodrigues em À Sombra Das Chuteiras Imortais, no mesmo estilo apaixonante que ele usava para escrever suas peças, contos e romances.
Mas não é só quando trata da seleção que Nelson faz do futebol um teatro que envolve todas as paixões humanas. Ao falar de um reles Flamengo X Canto do Rio ou do velório de um velho jogador obscuro, ele está apenas usando o futebol como um pretexto para mergulhar em suas obsessões: o heroísmo e o medo, a multidão e o indivíduo, a vida e a morte.
As crônicas são sobre futebol, mas o futebol é apenas um pretexto para Nelson falar da coragem e do medo, da multidão e do indivíduo, de canalhas e heróis – e alguns desses heróis são as grandes figuras do futebol do passado, como Almir (o “Pernambuquinho”), Amarildo (o “Possesso”), João Saldanha (o “João Sem Medo”) e, naturalmente, Garrincha e Pelé.
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