Slavoj Žižek- Às Portas Da Revolução: Escritos De Lenin De 1917

A primeira reação pública à ideia de retomar Lenin é, obviamente, uma risada sarcástica. Marx, tudo bem – hoje em dia, até mesmo em Wall Street há gente que ainda o admira

: o Marx poeta das mercadorias, que fez descrições perfeitas da dinâmica capitalista; o Marx dos estudos culturais, que retratou a alienação e a reificação de nossas vidas cotidianas.
Mas Lenin – não, você não pode estar falando sério! Lenin não é aquele que representa justamente o fracasso na colocação em prática do marxismo? O responsável pela grande catástrofe que deixou sua marca em toda a política mundial do século XX? O responsável pelo experimento do socialismo real, que culminou numa ditadura economicamente ineficiente?
Então, se há um consenso dentro da esquerda radical da atualidade (o que resta dela), é que, para ressuscitar o projeto político radical, devemos deixar para trás o legado leninista: o implacável enfoque na luta de classes; o partido como forma privilegiada de organização; a tomada violenta e revolucionária do poder; a consequente “ditadura do proletariado”… todos esses “conceitos-zumbis” não devem ser abandonados se a esquerda quiser ter alguma possibilidade de vitória nas condições do capitalismo “pós--industrial” atual?
O problema desse argumento aparentemente convincente é que ele endossa de maneira simplista a imagem herdada de Lenin como o sábio líder revolucionário que, após formular as coordenadas básicas de seu pensamento e prática em O que fazer?, simplesmente as aplicou, de modo implacável, a partir de então.
Mas, e se houvesse outra história a ser contada sobre Lenin? É verdade que a esquerda de hoje está passando pela experiência devastadora do fim de toda uma era para o movimento progressista, uma experiência que a obriga a reinventar as coordenadas básicas de seu projeto. Contudo, foi uma experiência exatamente homóloga que deu origem ao leninismo.
É bom recordar o espanto de Lenin quando, no outono de 1914, todos os partidos socialdemocratas europeus (com a honrosa exceção dos bolcheviques russos e dos socialdemocratas sérvios) adotaram a “linha patriótica”. Lenin chegou a pensar que a edição do Vorwärts – o jornal diário dos socialdemocratas alemães que noticiou que os membros de seu partido no Reichstag haviam votado pelos créditos militares – era uma falsificação feita pela polícia secreta tsarista, com o objetivo de enganar os trabalhadores russos.
Naquela época do conflito militar que dividiu o continente europeu ao meio foi difícil rejeitar a noção de que se deveria tomar partido nessa luta e combater o “fervor patriótico” em seu próprio país! Muitas mentes privilegiadas (incluindo Freud) sucumbiram à tentação nacionalista, ainda que por apenas um par de semanas!

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A primeira reação pública à ideia de retomar Lenin é, obviamente, uma risada sarcástica. Marx, tudo bem – hoje em dia, até mesmo em Wall Street há gente que ainda o admira: o Marx poeta das mercadorias, que fez descrições perfeitas da dinâmica capitalista; o Marx dos estudos culturais, que retratou a alienação e a reificação de nossas vidas cotidianas.
Mas Lenin – não, você não pode estar falando sério! Lenin não é aquele que representa justamente o fracasso na colocação em prática do marxismo? O responsável pela grande catástrofe que deixou sua marca em toda a política mundial do século XX? O responsável pelo experimento do socialismo real, que culminou numa ditadura economicamente ineficiente?
Então, se há um consenso dentro da esquerda radical da atualidade (o que resta dela), é que, para ressuscitar o projeto político radical, devemos deixar para trás o legado leninista: o implacável enfoque na luta de classes; o partido como forma privilegiada de organização; a tomada violenta e revolucionária do poder; a consequente “ditadura do proletariado”… todos esses “conceitos-zumbis” não devem ser abandonados se a esquerda quiser ter alguma possibilidade de vitória nas condições do capitalismo “pós–industrial” atual?
O problema desse argumento aparentemente convincente é que ele endossa de maneira simplista a imagem herdada de Lenin como o sábio líder revolucionário que, após formular as coordenadas básicas de seu pensamento e prática em O que fazer?, simplesmente as aplicou, de modo implacável, a partir de então.
Mas, e se houvesse outra história a ser contada sobre Lenin? É verdade que a esquerda de hoje está passando pela experiência devastadora do fim de toda uma era para o movimento progressista, uma experiência que a obriga a reinventar as coordenadas básicas de seu projeto. Contudo, foi uma experiência exatamente homóloga que deu origem ao leninismo.
É bom recordar o espanto de Lenin quando, no outono de 1914, todos os partidos socialdemocratas europeus (com a honrosa exceção dos bolcheviques russos e dos socialdemocratas sérvios) adotaram a “linha patriótica”. Lenin chegou a pensar que a edição do Vorwärts – o jornal diário dos socialdemocratas alemães que noticiou que os membros de seu partido no Reichstag haviam votado pelos créditos militares – era uma falsificação feita pela polícia secreta tsarista, com o objetivo de enganar os trabalhadores russos.
Naquela época do conflito militar que dividiu o continente europeu ao meio foi difícil rejeitar a noção de que se deveria tomar partido nessa luta e combater o “fervor patriótico” em seu próprio país! Muitas mentes privilegiadas (incluindo Freud) sucumbiram à tentação nacionalista, ainda que por apenas um par de semanas!

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