História Secreta De Um Romance

Escrever um romance é um ritual semelhante ao strip-tease. Como a moça que sob impudicos refletores se desfaz das roupas e mostra, um a um, seus íntimos segredos, o romancista também desnuda sua intimidade em público através de seus romances.

Mas, logicamente, existem diferenças. O que o romancista revela não são seus encantos ocultos, como o faz a desembaraçada moça, senão demônios que o atormentam e o obsediam, ou seja, a parte mais feia de si mesmo: suas nostalgias, culpas e rancores.
Outra diferença é que num strip-tease a moça está vestida no princípio e no final, despida. No caso do romance a trajetória é inversa: no começo o romancista está despido e no final, vestido. As experiências pessoais (vividas, sonhadas, ouvidas e lidas) que se constituíram no primeiro estímulo para escrever a história ficam tão maliciosamente disfarçadas durante o processo da criação que quando o romance está terminado quase sempre ninguém, nem o próprio romancista, pode escutar com facilidade esse coração autobiográfico que bate fatalmente em toda ficção. Escrever um romance é um strip-tease invertido, e todos os romancistas, discretos exibicionistas.
Pensei que poderia ser interessante para vocês, leitores de romances, assistir a um desses strip-teases dos quais resulta uma ficção. Gostaria de reconstituir esta noite, numa rigorosa síntese, o processo através do qual nasceu um romance que escrevi entre 1962 e 1965: A Casa Verde. Não pretendo contar-lhes os problemas técnicos que tive ao escrevê-lo, mas os fatos que foram as raízes desse romance e o curioso modo pelo qual estas experiências, ocorridas em diferentes períodos e circunstâncias, convergiram, se misturaram, transformaram-se mutuamente e, de certa forma, se emanciparam de mim para uma história verbal.
O romance se passa em dois lugares muito diferentes de meu país. Um é Piura, no extremo norte da costa, uma cidade cercada por grandes arcais. O segundo, muito longe de Piura, no outro lado dos Andes, é um pequeno povoado da região amazônica chamado Santa Maria de Nieva.

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Escrever um romance é um ritual semelhante ao strip-tease. Como a moça que sob impudicos refletores se desfaz das roupas e mostra, um a um, seus íntimos segredos, o romancista também desnuda sua intimidade em público através de seus romances. Mas, logicamente, existem diferenças. O que o romancista revela não são seus encantos ocultos, como o faz a desembaraçada moça, senão demônios que o atormentam e o obsediam, ou seja, a parte mais feia de si mesmo: suas nostalgias, culpas e rancores.
Outra diferença é que num strip-tease a moça está vestida no princípio e no final, despida. No caso do romance a trajetória é inversa: no começo o romancista está despido e no final, vestido. As experiências pessoais (vividas, sonhadas, ouvidas e lidas) que se constituíram no primeiro estímulo para escrever a história ficam tão maliciosamente disfarçadas durante o processo da criação que quando o romance está terminado quase sempre ninguém, nem o próprio romancista, pode escutar com facilidade esse coração autobiográfico que bate fatalmente em toda ficção. Escrever um romance é um strip-tease invertido, e todos os romancistas, discretos exibicionistas.
Pensei que poderia ser interessante para vocês, leitores de romances, assistir a um desses strip-teases dos quais resulta uma ficção. Gostaria de reconstituir esta noite, numa rigorosa síntese, o processo através do qual nasceu um romance que escrevi entre 1962 e 1965: A Casa Verde. Não pretendo contar-lhes os problemas técnicos que tive ao escrevê-lo, mas os fatos que foram as raízes desse romance e o curioso modo pelo qual estas experiências, ocorridas em diferentes períodos e circunstâncias, convergiram, se misturaram, transformaram-se mutuamente e, de certa forma, se emanciparam de mim para uma história verbal.
O romance se passa em dois lugares muito diferentes de meu país. Um é Piura, no extremo norte da costa, uma cidade cercada por grandes arcais. O segundo, muito longe de Piura, no outro lado dos Andes, é um pequeno povoado da região amazônica chamado Santa Maria de Nieva.

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