Extratos De Ópio I: A Artisticidade Da Arte Pessoa

Uma proposta sempre nova. Isto é o que faz o pesquisador Marcus Alexandre Motta. Sua recusa da mesmice, entretanto, é mais do que uma característica pessoal ou idiossincrasia. Trata-se, como ele mesmo definiu, de encarar uma batalha.

Uma luta para dizer o que não foi dito, de forma inaudita, fresca e corajosa. Especialmente quando se trata de falar de um autor como Fernando Pessoa, cuja obra já rendeu tantos ensaios, tantas escritas, tantas teorias.
Será, inevitavelmente, uma batalha perdida. Marcus Motta sabe disso. Não pretende construir grandes grades teóricas, nem formar sistemas interpretativos.
Dispõe-se, como só poderia ser, a uma autobiografia, a partir da leitura de Pessoa – ou da leitura Pessoa, como certamente iria preferir. Impulsionado pelo próprio recurso poético do literato luso – a despersonalização, o outramento – envereda por um caminho sem volta e sem sucesso. Seu sucesso, como já havia previsto Baudelaire, será o fracasso – a compreensão impossível, tanto quanto os mundos que descortina na escrita de Pessoa. Será tão ou mais exitosa a leitura que se arriscar a não compreender, a não conhecer.
Diria mesmo que seria preciso uma outra forma de leitura, não linear, não explicativa, da mesma ordem daquela que o autor faz de Pessoa. Substantiva e incomum. Às vezes uma imagem, uma palavra em parênteses (explico, afirmo, antecipo etc.), uma respiração produzida pelos asteriscos, dão ao leitor algum conforto e – nos mais otimistas – a sensação breve do contato, do diálogo. Apenas para, logo depois, ser surpreendido com afirmações abruptas, frases cortantes, imagens opacas. Nesse ritmo, vai-se construindo um livro que adia seu fim, se esparramando por muitas páginas azuis e quase-vazias. Uma escrita em negativo, cujo fim só pode ser a certeza do engodo, de ter deliberadamente escapado do objetivo a que se propôs, como única maneira de recusar qualquer teleologia.
Difícil? Talvez. Menos por seu aparente hermetismo, negado tão logo se entra no ritmo titubeante da escrita, e mais por exigir essa leitura não linear, não teleológica, não finalista.
O livro de Marcus Motta possui essa ausência de encadeamentos temporais, podendo ser interrompida e retomada em qualquer lugar. Mesmo as datas que servem de início de suas partes, ao invés de ordenar temporalmente, parecem mais dispostas a revelar os avanços e recuos do pensamento e de suas estratégias de formalização. Um desafio contemporâneo.

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Uma proposta sempre nova. Isto é o que faz o pesquisador Marcus Alexandre Motta. Sua recusa da mesmice, entretanto, é mais do que uma característica pessoal ou idiossincrasia. Trata-se, como ele mesmo definiu, de encarar uma batalha. Uma luta para dizer o que não foi dito, de forma inaudita, fresca e corajosa. Especialmente quando se trata de falar de um autor como Fernando Pessoa, cuja obra já rendeu tantos ensaios, tantas escritas, tantas teorias.
Será, inevitavelmente, uma batalha perdida. Marcus Motta sabe disso. Não pretende construir grandes grades teóricas, nem formar sistemas interpretativos.
Dispõe-se, como só poderia ser, a uma autobiografia, a partir da leitura de Pessoa – ou da leitura Pessoa, como certamente iria preferir. Impulsionado pelo próprio recurso poético do literato luso – a despersonalização, o outramento – envereda por um caminho sem volta e sem sucesso. Seu sucesso, como já havia previsto Baudelaire, será o fracasso – a compreensão impossível, tanto quanto os mundos que descortina na escrita de Pessoa. Será tão ou mais exitosa a leitura que se arriscar a não compreender, a não conhecer.
Diria mesmo que seria preciso uma outra forma de leitura, não linear, não explicativa, da mesma ordem daquela que o autor faz de Pessoa. Substantiva e incomum. Às vezes uma imagem, uma palavra em parênteses (explico, afirmo, antecipo etc.), uma respiração produzida pelos asteriscos, dão ao leitor algum conforto e – nos mais otimistas – a sensação breve do contato, do diálogo. Apenas para, logo depois, ser surpreendido com afirmações abruptas, frases cortantes, imagens opacas. Nesse ritmo, vai-se construindo um livro que adia seu fim, se esparramando por muitas páginas azuis e quase-vazias. Uma escrita em negativo, cujo fim só pode ser a certeza do engodo, de ter deliberadamente escapado do objetivo a que se propôs, como única maneira de recusar qualquer teleologia.
Difícil? Talvez. Menos por seu aparente hermetismo, negado tão logo se entra no ritmo titubeante da escrita, e mais por exigir essa leitura não linear, não teleológica, não finalista.
O livro de Marcus Motta possui essa ausência de encadeamentos temporais, podendo ser interrompida e retomada em qualquer lugar. Mesmo as datas que servem de início de suas partes, ao invés de ordenar temporalmente, parecem mais dispostas a revelar os avanços e recuos do pensamento e de suas estratégias de formalização. Um desafio contemporâneo.

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