
Quem anda pela região central de São Paulo pode se deparar com uma paisagem caracterizada por centenas de usuários de crack, esparramados entre ruas e edifícios antigos, entre barracas de plásticos pretos e guarda-sóis, compondo um espaço denominado de Cracolândia.
A quantidade de pessoas e a acentuada movimentação pelo centro e pelas imediações surpreendem os olhares dos que por lá circulam e têm chamado
atenção dos órgãos do governo, de Organizações Não Governamentais (ONGs), de instituições religiosas e da mídia.
Os corpos geralmente magros, sujos, intensivos desafiam as políticas públicas e interpelam a população com sua presença no meio de uma das maiores cidades do mundo.
A propósito desse agrupamento, toda uma sorte de conjecturas e de especulações metafísicas foi formulada: Por que tamanha quantidade de corpos inconformes em região tão central na cidade? Como acabar com o tráfico e comércio de drogas tornadas ilícitas?
Surgem, inclusive, especulações nada humanistas, como: de que maneira “limpar” uma área que deveria ser “nobre”? Como extirpar essa “parte indesejável” da população?
Assim, essas conjecturas e especulações revelam também uma faceta da sensibilidade contemporânea. Nesse âmbito, não é incomum práticas violentas na lida cotidiana com esses corpos indesejáveis.
É sobre esse contexto complexo que Ygor Diego Delgado Alves se volta em Jamais Fomos Zumbis. Ygor fez seu trabalho de campo numa “biqueira” com fumódromo (em dois locais, um fechado e outro aberto) e na Cracolândia.
O autor foi se achegando aos usuários de crack, e neles, descobriu muito mais do que a imagem comum, veiculada na grande mídia e mesmo por pesquisadores, de mortos vivos, de pessoas sem vontade e exclusivamente imersas no consumo de crack.
Jamais Fomos Zumbis debruça sua análise sobre o uso do crack na Cracolândia paulistana, espaço símbolo do “craqueiro”, onde se encontram diversos locais de comércio, de uso e mistos.
A partir de uma pesquisa baseada na observação participante, o autor teve acesso a informações que de outra maneira não estariam à disposição, preenchendo, desta forma, uma lacuna no conhecimento a respeito do uso do crack.
