
A semântica, como ramo das pesquisas linguísticas, é objeto de estudos nos cursos de letras, mas há poucos livros que possam ser utilizados nas aulas de semântica. Sabe por quê? Porque há muitas semânticas.
Cada professor que ministra essa disciplina traz para ela um enfoque específico. Alguns docentes trabalham semântica e sintaxe; outros, semântica e pragmática; por vezes ela aparece com uma disciplina ampla, como a linguística geral, e assim é só uma unidade dentro de um curso.
O sentido faz parte da estrutura da linguagem, ou seja, sem sentido a enunciação não se faz, tal como ocorre com a estruturação das formas (morfologia das palavras), a estruturação dos sons (fonologia) e a estruturação dos enunciados (sintaxe).
A semântica de uma língua é o conjunto de fatores variados e complexos que garantem a sua significação.
O que se pretende aqui é um modo de observar a linguagem pela perspectiva da semântica da enunciação. Isso quer dizer que pretendemos olhar para o sentido não pela via do dicionário, pelo significado das palavras socialmente mais marcado, mas sim pelos seus efeitos.
Segundo Hugo Mari: “Os signos são também produto de todo itinerário histórico que eles cumprem: a cada instante de uso, a saber, a cada circunstância política própria, ele se deixa contaminar por aquilo que é circunstancial e momentâneo”.
Trata-se de um modo de olhar a linguagem que prioriza o sentido, voltando-se para uma análise linguística que considera cada palavra, cada texto, cada fala, a partir do lugar de quem a produziu, das condições histórico-sociais de produção, do modo como foi dito e até mesmo de que leitor foi previsto.
Essa perspectiva de análise textual discursiva arrisca-se a analisar não as palavras em si, ou os textos por eles mesmos, mas os mecanismos que se registram nas práticas de linguagem, os quais possibilitam determinados efeitos de sentido. Por isso ela objetiva as produções de sentido na linguagem.
