A Sobrevivente A21646

Há uma diferença entre memória e História. Tradicionalmente, memória refere-se a um período de tempo mais curto e é algo individual, ou, no máximo, partilhado por um grupo definido: uma família, uma pequena comunidade.

Quando estamos falando de História, porém, estamos falando de algo que, pela importância, transcende as barreiras do tempo e do espaço e torna-se patrimônio de um povo ou da humanidade.
A Sobrevivente A21646 fala de memórias do Holocausto. Aqui, temos uma pessoa, Hertha Spier, nascida Gruber, evocando os terríveis transes pelos quais passou sob o nazismo. Não é a primeira vez que o faz. Ela já havia dado um longo depoimento à equipe de Steven Spielberg (o diretor de A lista de Schindler assumiu, como se sabe, o compromisso moral de preservar as recordações do Holocausto). Um outro depoimento aparece no livro Odyssey of exile: jewish women flee the Nazis for Brazil (Odisseia do exílio: mulheres judias fogem dos nazistas para o Brasil), editado por Katherine Morris.
Agora, é aos leitores brasileiros que Hertha conta a sua história. Tal como narrada ao escritor gaúcho Tailor Diniz, A Sobrevivente A21646 revela-se um dos mais comoventes e impressionantes textos sobre o tema publicados no Brasil. O que temos aqui é, basicamente, a evocação de um pesadelo que começa a 1º de setembro de 1939 quando as tropas nazistas invadiram Krakow, onde Hertha, então com 21 anos, encontrava-se com seus familiares. O que aconteceu a partir de então poderia ser resumido numa frase do pai de Hertha: “Nossas vidas não são mais nossas vidas”. As vidas dos judeus agora tinham donos cruéis, que matavam seres humanos com a maior tranquilidade.
Os familiares de Hertha foram assassinados. Quanto a ela, foi, como muitos outros, enviada para o campo de concentração de Plaszow, cujo comandante, Amon Goeth, tornou-se célebre pela crueldade. Depois para Auschwitz, passando pela perversa seleção do médico Josef Mengele, conhecido como o “anjo da morte”. E, por fim, para o campo de Bergen-Belsen, onde resistiu à inanição e à epidemia de tifo, que dizimou milhares de prisioneiros. Que Hertha tenha sobrevivido a este verdadeiro inferno é um milagre. Milagre que esta brava mulher tratou de transformar em lição para as futuras gerações. Uma lição que se constitui, inclusive, em grata e reverente homenagem ao Brasil, o país que a acolheu e que poderá, agora, tomar conhecimento de sua dramática saga. Ao longo destas páginas, nós veremos a memória se transformar em História. Uma História que não pode nem deve ser esquecida, pois aqueles que esquecem os erros (e os crimes) do passado estão condenados a repeti-los. O século vinte foi pródigo nesses erros e crimes. Mas o século vinte e um pode evitá-los. Para isso, A sobrevivente A21646 é uma contribuição fundamental. Os números que os nazistas tatuaram nas peles de muitos prisioneiros desapareciam com a morte destes. Mas continuam gravados na memória de nosso tempo.

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A Sobrevivente A21646

Há uma diferença entre memória e História. Tradicionalmente, memória refere-se a um período de tempo mais curto e é algo individual, ou, no máximo, partilhado por um grupo definido: uma família, uma pequena comunidade. Quando estamos falando de História, porém, estamos falando de algo que, pela importância, transcende as barreiras do tempo e do espaço e torna-se patrimônio de um povo ou da humanidade.
A Sobrevivente A21646 fala de memórias do Holocausto. Aqui, temos uma pessoa, Hertha Spier, nascida Gruber, evocando os terríveis transes pelos quais passou sob o nazismo. Não é a primeira vez que o faz. Ela já havia dado um longo depoimento à equipe de Steven Spielberg (o diretor de A lista de Schindler assumiu, como se sabe, o compromisso moral de preservar as recordações do Holocausto). Um outro depoimento aparece no livro Odyssey of exile: jewish women flee the Nazis for Brazil (Odisseia do exílio: mulheres judias fogem dos nazistas para o Brasil), editado por Katherine Morris.
Agora, é aos leitores brasileiros que Hertha conta a sua história. Tal como narrada ao escritor gaúcho Tailor Diniz, A Sobrevivente A21646 revela-se um dos mais comoventes e impressionantes textos sobre o tema publicados no Brasil. O que temos aqui é, basicamente, a evocação de um pesadelo que começa a 1º de setembro de 1939 quando as tropas nazistas invadiram Krakow, onde Hertha, então com 21 anos, encontrava-se com seus familiares. O que aconteceu a partir de então poderia ser resumido numa frase do pai de Hertha: “Nossas vidas não são mais nossas vidas”. As vidas dos judeus agora tinham donos cruéis, que matavam seres humanos com a maior tranquilidade.
Os familiares de Hertha foram assassinados. Quanto a ela, foi, como muitos outros, enviada para o campo de concentração de Plaszow, cujo comandante, Amon Goeth, tornou-se célebre pela crueldade. Depois para Auschwitz, passando pela perversa seleção do médico Josef Mengele, conhecido como o “anjo da morte”. E, por fim, para o campo de Bergen-Belsen, onde resistiu à inanição e à epidemia de tifo, que dizimou milhares de prisioneiros. Que Hertha tenha sobrevivido a este verdadeiro inferno é um milagre. Milagre que esta brava mulher tratou de transformar em lição para as futuras gerações. Uma lição que se constitui, inclusive, em grata e reverente homenagem ao Brasil, o país que a acolheu e que poderá, agora, tomar conhecimento de sua dramática saga. Ao longo destas páginas, nós veremos a memória se transformar em História. Uma História que não pode nem deve ser esquecida, pois aqueles que esquecem os erros (e os crimes) do passado estão condenados a repeti-los. O século vinte foi pródigo nesses erros e crimes. Mas o século vinte e um pode evitá-los. Para isso, A sobrevivente A21646 é uma contribuição fundamental. Os números que os nazistas tatuaram nas peles de muitos prisioneiros desapareciam com a morte destes. Mas continuam gravados na memória de nosso tempo.

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