Juventudes E Espaços Educativos resulta de uma pesquisa que acompanhou a experiência educativa de um projeto com crianças, adolescentes e jovens, em um bairro de Fortaleza, os Meninos de Deus, no Parque Santa Filomena. Informações trazidas para uma sala de aula da Faculdade de Educação por alguns desses meninos nos comoveram e nos instigaram à pesquisa.
Ali, naquele bairro, em menos de 2 anos, 47 jovens haviam sido assassinados! Algo precisava ser feito. E foi. Foi feito no campo da sociedade civil, por ela própria.
É disso que este livro trata: identificar como os processos educativos se realizam com a contribuição da sociedade civil, que se organiza de várias formas.
As ONGs, ainda que suscitem questões sociológicas e políticas, são, igualmente e contraditoriamente, instrumentos que produzem ações questionadoras das políticas governamentais.
O propósito do estudo foi conhecer essa dinâmica, e, para tal, as pesquisadoras acompanharam, no período 2012-2014, o trabalho da ONG Convida (Conselho Nova Vida), que desenvolve o mencionado projeto. O grupo de pesquisa continua, ainda agora, realizando outra pesquisa nessa região da cidade.
A metodologia da pesquisa será apresentada em vários textos de Juventudes E Espaços Educativos, porém adiantamos que a preocupação que norteou sua definição foi a construção coletiva do processo investigativo, do caminho a percorrer.
Os pesquisadores estiveram presentes e foram participantes de todas as fases da investigação, e os sujeitos da pesquisa não foram considerados meros informantes. Buscamos fazer a pesquisa com eles.
Percalços? Sim, houve vários. Aproximamo-nos, porém, do cumprimento da proposta metodológica, que considerou a importância de contribuir para que um processo reflexivo fosse desencadeado com as rodas de conversa, oficinas, entrevistas e conversas informais. Muito, ainda, resta a fazer.
Os textos que compõem os três capítulos de Juventudes E Espaços Educativos abordam e analisam o miudinho das atividades do projeto Meninos de Deus, perseguindo a hipótese construída na pesquisa, que assim formulamos: os direitos são vividos como privilégios por parte ínfima da sociedade brasileira; a Constituição de 1988, o Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente (ECA), o Estatuto da Juventude são instrumentos legais que versam sobre os direitos, mas, para exercê-los, a população pobre deve conquistá-los com luta e organização; e, na luta, assim como nos espaços de participação e em projetos sociais, realizam-se os processos de aprendizagem dos direitos.
Em suma, interessa-nos relatar como vimos e analisamos essa construção ou esse aprendizado. Nos apontamentos dos pesquisadores, ainda cintila uma pergunta: foi possível mesmo contribuir para que a aprendizagem dos direitos tenha se efetivado ou tenha sido iniciada? Tomara que sim!