
Você está recebendo uma publicação que tem o objetivo de resgatar a memória de um companheiro militante de nossa categoria profissional, associado do Sindicato dos Químicos de São Paulo e Região, Virgílio Gomes da Silva.
Ele trabalhou e atuou na Nitro Química, que era a principal indústria de São Miguel Paulista na década de 1950. Militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), na década de 1960, pertenceu, depois, à ALN (Ação Libertadora Nacional).
Por conta de sua militância e da perseguição que os militares imprimiram sobre os trabalhadores, o camarada, companheiro Virgílio foi para a clandestinidade e adotou o codinome Jonas. Na ALN, ele participou de várias ações contra a ditadura.
Contam seus companheiros que ele foi um homem diferenciado, não só pela extrema coragem em enfrentar o inimigo, mas pela profunda sensibilidade humana: cultivava orquídeas, alimentava os pássaros e era de uma solidariedade impar com seus companheiros dentro da organização.
Ao ser preso, foi barbaramente torturado, mas não se rendeu, enfrentou seus algozes com a firmeza de sempre, a mesma firmeza com que acreditava na liberdade dos pássaros e na beleza das orquídeas.
Virgilio foi assassinado do modo mais brutal que se possa imaginar, destruíram seu corpo. O laudo de sua morte, melhor dizendo de seu assassinato, atesta que seus ossos estavam todos quebrados, seus órgãos vitais destruídos. Significativamente, seu coração permaneceu intacto.
Companheiro Virgílio assim como não destruíram seu coração, não apagaram sua esperança, seus sonhos, não conseguiram destruir a beleza das orquídeas.
Assim como não nos destruíram e, por isso, nós do Sindicato dos Químicos de São Paulo, nos juntamos ao Grupo Tortura Nunca Mais, à família e à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, para exigir do Estado o reconhecimento das atrocidades que fizeram com você.
Resgatar a memória do trabalhador Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, é sinalizar ao STF (Supremo Tribunal Federal) que a sociedade não aceita outra atitude em relação à Ação de Descumprimento de Preceito Federal (ADPF) que o Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) protocolou sobre a Lei de Anistia, senão a de reconhecer que a Lei de Anistia não se aplica aos agentes públicos que praticaram prisões ilegais, torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados.
Companheiro Virgílio, não descansaremos enquanto não nos disserem onde esconderam seu corpo. Hoje, 40 anos depois de seu desaparecimento nos porões da ditadura, rendemos nossa homenagem a todos os que foram ao longo da história perseguidos, torturados e assassinados, por acreditar que outro mundo é possível.
Você, Virgílio e todos eles estão sempre presentes e vivos em nossa memória, e nos inspiram cotidianamente em nossas lutas.











