Escassez

Escrevemos este livro porque estávamos ocupados demais para não escrevê-lo.
Sendhil queixava-se para Eldar, dizendo que tinha mais coisas a fazer do que tempo para fazê-las.

Prazos já haviam passado de “vencidos” para “assustadoramente atrasados”. Reuniões haviam sido remarcadas vezes demais. Sua caixa de entrada estava transbordando de e-mails que demandavam sua atenção. Ele conseguia visualizar o rosto magoado da mãe por não lhe telefonar nem de vez em quando. O adesivo com a data de revisão de seu carro estava vencido. E as coisas estavam piorando. Aquela conferência a uma conexão aérea de distância parecia uma boa ideia seis meses atrás, mas agora, nem tanto. Os atrasos haviam se tornado um círculo vicioso. A revisão do carro era mais uma coisa a fazer. Um projeto guinara para o lado errado por causa de uma resposta por e-mail tardia, e pô-lo de volta nos trilhos demandava ainda mais trabalho. A pilha de prazos expirados crescia perigosamente, a ponto de tombar.
A ironia de gastar tempo lamentando a falta de tempo não passou despercebida por Eldar, apenas em parte por Sendhil, que, sem desanimar, descreveu seu plano de fuga.
Primeiro, ele nadaria contra a maré. Velhas obrigações precisavam ser cumpridas, enquanto novas podiam ser evitadas. Ele diria não a cada nova solicitação. Impediria novos atrasos em antigos projetos, trabalhando meticulosamente para terminá-los. Por fim, essa austeridade valeria a pena. A pilha de coisas a fazer diminuiria até chegar a um nível administrável, e só então ele pensaria em novos projetos. E é claro que seria mais prudente ao prosseguir. Seu “sim” seria raro, apenas pronunciado depois de um exame cuidadoso. Isso não seria fácil, mas era necessário.
Elaborar o plano fez com que Sendhil se sentisse bem. Obviamente. Como observou Voltaire, muito tempo atrás, “A ilusão é o primeiro de todos os prazeres”.
Uma semana depois, veio outro telefonema de Sendhil: dois colegas estavam preparando um livro sobre a vida dos norte-americanos de baixa renda. “Esta é uma grande oportunidade. Deveríamos escrever um capítulo”, sugeriu ele. Eldar recorda que a voz do amigo não tinha um traço sequer de ironia.

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A ironia de gastar tempo lamentando a falta de tempo não passou despercebida por Eldar, apenas em parte por Sendhil, que, sem desanimar, descreveu seu plano de fuga.
Primeiro, ele nadaria contra a maré. Velhas obrigações precisavam ser cumpridas, enquanto novas podiam ser evitadas. Ele diria não a cada nova solicitação. Impediria novos atrasos em antigos projetos, trabalhando meticulosamente para terminá-los. Por fim, essa austeridade valeria a pena. A pilha de coisas a fazer diminuiria até chegar a um nível administrável, e só então ele pensaria em novos projetos. E é claro que seria mais prudente ao prosseguir. Seu “sim” seria raro, apenas pronunciado depois de um exame cuidadoso. Isso não seria fácil, mas era necessário.
Elaborar o plano fez com que Sendhil se sentisse bem. Obviamente. Como observou Voltaire, muito tempo atrás, “A ilusão é o primeiro de todos os prazeres”.
Uma semana depois, veio outro telefonema de Sendhil: dois colegas estavam preparando um livro sobre a vida dos norte-americanos de baixa renda. “Esta é uma grande oportunidade. Deveríamos escrever um capítulo”, sugeriu ele. Eldar recorda que a voz do amigo não tinha um traço sequer de ironia.

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