
Novos Dizeres, terceiro livro de poesia de Ruy Póvoas apresenta verbetes, como uma espécie de dicionário, que remetem à constatação do que seja o mundo de hoje, onde as pulsões nos fazem provar do riso, do sofrimento, da alegria, da tristeza e da certeza da nossa finitude. No plano da forma, o autor constrói uma maneira original de versejar.
O ato de fazer um poema é exigente.
Cobra muito caminhar.
Não é apenas saber lidar com as
palavras. Por aí passa também o
processo da intuição. Ele é tão mais
eficaz, se quem o elabora for uma
antena afiada,
capaz de captar as dores e os sorrisos do
mundo,
a alma humana, os desvãos de quem
estiver na existência.
Mas isso só não basta. Ainda tem
o estilo. Ele carrega as saliências e
reentrâncias
do viver, da formação e das escolhas de
quem escreve poemas.
Muito mais que tudo isso, ainda tem o
dom artístico.
E ele varia tanto de pessoa para pessoa.
Quanto a mim, sempre caminhei por
simultâneas sendas, trilhas e estradas:
o ensino, a escrita, o terreiro. Em cada
viagem sou um,
sem deixar de ser os outros dois. Aí,
meu trabalho com as letras,
às vezes, é mesmo duro, porque traz
memórias da ancestralidade africana,
até mesmo com a vontade de cantar e
contar.
Outras vezes, o meu Nordeste se avulta,
e o cordel lança seus dardos,
querendo aparecer. Mas aquele lado
professor, sem querer ser professoral,
nunca deixa de pôr as manguinhas de
fora também.
Barafunda?
Não. Decididamente, não. Nada é
escrito aleatoriamente,
apenas não padeço de angústias em
busca da perfeição.
A rima é compulsória, enquanto o
ritmo mora em mim.
Pois que eles se imponham e reinem
absolutos sobre meus versos.
Talvez, assim, possa agradar a uns,
retratar outros,
ou fazer alguém viajar por seus
meandros,
sejam eles ocultos ou declarados.
Eis aqui algo parecido com um
dicionário.
