
Quando em 1979, em plena ditadura militar, Carlos Nelson Coutinho escreveu “A Democracia como valor universal” possivelmente pensou que aquela obra traria luz, estritamente, ao momento da história política e social brasileira e aos dilemas de vários de seus contemporâneos quanto à modalidade de estrutura democrática pela qual se iria lutar à época.
Naquela ocasião, a emergência da transição política no Brasil obrigava a todos os opositores do regime a refletirem (e convergirem) para a conformação de um novo “modelo” pautado em liberdades político-formais. Ali, Carlos Nelson Coutinho, seguramente, foi uma forte influência.
É a partir da identificação com o pensamento de Coutinho que a área Cultura e Serviço Social se constitui no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRJ. Com vinte e um pesquisadores, vários deles de distintos campos de conhecimento, como a Sociologia, a Antropologia, a Geografia, a Psicologia e a Ciência Política, o grupo promove estudos e pesquisas voltados à produção e socialização de conhecimentos em sintonia com as preocupações do Serviço Social e das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e, ao mesmo tempo, com o pluralismo social verificado na sociedade brasileira. Aqui também Carlos Nelson Coutinho, seguramente, é uma forte influência.
Em um Programa de Pós-Graduação que trata a democracia como valor fundamental, a defesa do pluralismo se mostra como necessária à afirmação da “vontade coletiva”, sem, contudo, negligenciar a “diversidade”. Diversidade expressa tanto na formação de seu corpo docente, conforme anteriormente exposto, mas também em termos de posicionamentos políticos, origens sociais.
Essa consideração da diversidade é fundamental, mas como diria Coutinho, não deve desviar para o corporativismo, antagonizando grupos em defesa de interesses particulares. Este cuidado precisa estar sempre no horizonte.
Coutinho, ao analisar a segunda dimensão do pluralismo – qual seja, aquela referente à construção do conhecimento – possibilita-nos refletir melhor sobre o caráter da coletânea que ora apresentamos. Para ele, é esta a dimensão mais complexa, pois ao contrário do pluralismo no campo político, o que se refere à teoria do conhecimento não é algo bem resolvido, necessitando, segundo ele, de um cuidado maior ao operar com os conceitos.
Os trabalhos aqui reunidos compartilham desses valores e traduzem minimamente a pluralidade da área em termos de metodologias, afirmações, conceitos, hipóteses, relatos, conclusões.
