O Bem Viver é um macroconceito que trata de uma cosmovisão de raízes comunitárias não capitalistas, sustentada em convivência cidadã na diversidade e harmonia com a natureza.
É um ponto de partida, caminho e horizonte, que surge como oportunidade de construção coletiva e plural de uma nova forma de vida, de pensamento, de ação, de ser e de estar no mundo. Não traz receitas prontas e acabadas, mas é um convite à reflexão, ao diálogo e à criação conjunta.
Tem suas origens na prática, no viver dos povos indígenas do mundo, mais especificamente, dos povos indígenas andinos.
Sem significar o retorno idealizado ao modo de vida dos povos originários, inspira-se em princípios, que ainda hoje são vividos em comunidades indígenas ao redor do planeta.
Por exemplo, traz em si um conceito de comunidade, no qual, segundo Boaventura Santos, “ninguém pode ganhar se seu vizinho não ganha”; reconhece a Natureza como sujeito de direitos e com limites biofísicos; considera a relacionalidade e a complementariedade entre todos os seres vivos – humanos e não humanos, identificando-se com uma visão biocêntrica, que podemos entender como uma “cultura do estar em harmonia”; sinaliza uma ética da suficiência, ampliando as noções de progresso e desenvolvimento para além de direção única, especialmente vinculada ao crescimento econômico.
O centro das atenções e das ações não deve ser apenas o ser humano, mas o ser humano vivendo em comunidade e em harmonia com a natureza. Faz uma crítica e investigação à essência, ao cerne do desenvolvimento, do extrativismo, do capitalismo, do neoliberalismo, em síntese, das bases que estruturam a civilização ocidental, as relações econômicas e de “desenvolvimento” atuais, nas quais nós do Brasil e, outros países, estamos imersos.
Quando pensamos em desenvolvimento articulado ao bem viver, é preciso que as alternativas, as escolhas sejam feitas de forma a não colocar em risco a vida das próximas gerações. Para isso, o diálogo entre diferentes grupos ou individualidades, a necessária revisão de conceitos à medida que vamos concebendo ações e proposições.
Revisar, revisitar, na escuta e na partilha, perceber, intuir, contemplar cada ideia, cada proposta, cada ação para compreender implicações mais profundas estão na essência de uma alternativa ao desenvolvimento como conhecemos.